quinta-feira, 21 de maio de 2009

O BRASIL ANEDÓTICO II

O ORGULHO DE UM GÊNIO
Humberto de Campos - Carvalho e Roseiras, pág. 63

Joaquim Gomes de Sousa, o genial brasileiro, que, aos trinta anos, resumia todo o saber do seu tempo, era profundíssimo em tudo, principalmente em matemática. Na Câmara, discutia todas as matérias. Certo dia, ao apartear um deputado que discursava sobre finanças, o orador retrucou veementemente:
- O assunto em discussão não é da especialidade de V. Exa.!
E Gomes de Sousa, logo, de pé, com todo o fogo do seu orgulho:
- É por isso mesmo que eu o discuto com V. Ex. Se se tratasse de assunto da minha especialidade, eu não admitiria V. Ex. à discussão.

SANGUE E FLORES
Tobias Monteiro - "Pesquisas e Depoimentos", pág. 34

Votava-se no Senado a lei do Ventre Livre, a 28 de setembro de 1878. Nas tribunas do Senado, repletas, apareciam as figuras mais eminentes do mundo diplomático, entre essas o ministro dos Estados Unidos. A discussão do projeto foi brilhante e vigorosa, sob a presidência de Abaeté. E quando, pela votação, se verificou a vitória de Rio-Branco, o povo que enchia as galerias irrompeu em manifestações ao grande estadista, lançando-lhe sobre a cabeça braçadas e braçadas de flores.
Terminada a sessão, O ministro dos Estados Unidos desceu ao recinto para felicitar o presidente do Conselho e os senadores que haviam votado o projeto. E colhendo, com as próprias mãos, algumas flores, das que o povo atirara a Rio-Branco, declarou:
- Vou mandar estas flores ao meu país, para mostrar como aqui se fez deste modo, uma lei que lá custou tanto sangue!

CAXIAS E A SUA TROPA
Taunay - Homens e Coisas do Império, pág. 112

O Duque de Caxias, quando em campanha, fazia questão de sofrer as mesmas agruras e correr os mesmos riscos que os seus soldados. Uma tarde, em Lomas Valentinas, estava ele, completamente molhado, sob uma laranjeira, esperando o momento do ataque, quando uma ordenança se aproximou, trazendo à mão, com cuidado, uma fumegante xícara de café.
- Aqui está - disse - que o sr. dr. Bonifácio de Abreu mandou para V. Excia., e ordenou-me que não deixasse cair um pingo no chão.
O marechal fitou-o pausadamente.
- Eu não quero, - respondeu, afinal.
E para o soldado, abrandando a voz:
- Beba-o você, camarada.

O ESCRAVO COROADO
Taunay - Reminiscências, vol. I, pág. 107

Em uma das suas audiências dos sábados, em que atendia a toda a gente, recebeu D. Pedro II no Paço da Boa Vista um preto velho, que se queixava dos maus tratos de que era vítima.
- Ah, meu senhor grande, - lamentava-se o mísero, - como é duro ser escravo!
O Imperador encarou-o, comovido.
- Tem paciência, filho, - tranqüilizou-o. - Eu também sou escravo... das minhas obrigações, e elas são muito pesadas! As tuas desgraças vão minorar...
E mandou alforriar o preto.

A INCAPACIDADE DE UM MINISTRO
Alfredo Pujol - Discurso de recepção na Academia Brasileira de Letras

A demissão de Rodrigues Júnior na pasta da Guerra, no gabinete Lafayette, havia constituído um escândalo nos arraiais políticos. Explicando à Câmara o seu ato, o presidente do Conselho dera a perceber que este fora motivado pela ignorância do seu ex-companheiro de gabinete.
- Decline V. Ex. um fato! Diga qual foi o erro que cometi! - aparteou, furioso, o acusado.
E Lafayette, brutal e imperturbável:
- A incapacidade não se prova com fatos!

FRANQUEZA E PRUDENCIA
Salvador de Mendonça - Artigo n'O Imparcial - 1913

Professor das princesas, filhas de Pedro II, Joaquim Manuel de Macedo, o célebre romancista de A Moreninha, desempenhava o seu mandato de deputado geral, quando o conselheiro Francisco José Furtado, organizador do gabinete Liberal de 31 de agosto de 1864, o convidou para a pasta dos Estrangeiros.
Recusada a honra, mandou o Imperador chamar o escritor à sua presença, e indagou o motivo do seu gesto, quando possuía tantas qualidades para ser um bom ministro.
- Admita-se que eu tenha as qualidades que Vossa Majestade me atribui, - respondeu Macedo: - mas eu não sou rico, requisito indispensável a um ministro que queira ser independente.
E decidido:
- Eu não quero sair do Ministério endividado ou ladrão!

SENADORES "BARBEIROS"
Taunay - Reminiscências - vol. I, pág. 26

Zacarias de Gois e Vasconcelos era orgulhosíssimo e fazia questão de, quando falava, ser ouvido atentamente por toda a casa. Um dia, achava-se ele na tribuna, quando notou que dois velhos colegas, o Barão do Rio-Grande e o Barão de Pirapama, que eram profundamente surdos, conversavam em voz alta, para se entenderem sobre navalhas afiadas. Zacarias parou. E como a interrupção causasse estranheza:
- Estou esperando que os Barões de Pirapama e do Rio-Grande acabem de se barbear!

Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)

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