sábado, 22 de agosto de 2009

OS FRANCISCANOS NO BRASIL-COLÔNIA

O estabelecimento definitivo dos Franciscanos no Brasil deu-se em 1585. Depois de longos e necessários preparativos, os frades fundadores partiram de Lisboa em 1º de janeiro de 1585, e chegaram no Recife a 12 de abril do mesmo ano. Assim começou a existir no Brasil o primeiro convento da Ordem dos Frades Menores, que se tornou a casa-mãe da Província de Santo Antônio, da qual nasceu a da Imaculada Conceição.
O Decreto de 13 de março de 1584, com que o Ministro Geral da Ordem Franciscana instituiu a Custódia de Santo Antônio do Brasil, conferia ao Superior, Frei Melquior de Santa Catarina, autorização e licença para fundar conventos onde lhe parecesse necessário e receber noviços à Ordem.
Frei Melquior exerceu o cargo de Custódio durante nove anos. Neste período, fundou cinco conventos: Convento de Nossa Senhora das Neves, em Olinda (1585); Convento de São Francisco, na Bahia (1587); Convento de Santo Antônio, em Igaraçu (1588); Convento de Santo Antônio, na Paraíba (1589) e Convento de São Francisco, em Vitória (1591).
A expansão dos franciscanos em terras brasileiras obedecia a várias finalidades. O Ministro Geral desejava a sua Ordem radicada no Brasil e reforçada pelos filhos da terra. O governo colonial queria ocupar os Frades Menores na catequese e na pacificação dos indígenas; os colonos os procuravam para a assistência espiritual e celebração solene das festas religiosas.
A fundação do Convento do Rio de Janeiro está, de certa maneira, relacionada com a do Convento de Vitória. Depois da fundação dos conventos do Rio de Janeiro, do Recife e de Ipojuca, cujas construções foram resolvidas na mesma data e aos quais se deu o mesmo nome: Convento de Santo Antônio, durante vinte e três anos não houve novas fundações de conventos, porque o Governo Metropolitano as proibira, por um decreto assinado em 16 de outubro de 1609. Esta proibição só deixou de existir em 28 de novembro de 1624, quando um alvará régio liberou novas fundações para todo o futuro e sem exigência de licença da Câmara e do Governador Geral.
Desapareceu, então, a barreira que travava a expansão da Ordem Franciscana no Brasil; apareceu, contudo, um outro e bem mais sério: a Invasão Holandesa; primeiramente, na Bahia, iniciada em 10 de maio de 1624 e que durou até 1º de maio de 1625, e depois a de Pernambuco, que se estendeu de 16 de fevereiro de 1630 a 26 de janeiro de 1654, quando os batavos finalmente assinaram o Tratado de Rendição.
É evidente que, nas zonas ocupadas pelos holandeses, influenciadas e ameaçadas pelos invasores protestantes, os franciscanos sofressem perseguição, sendo expulsos dos conventos de Pernambuco e da Paraíba. Mesmo assim não esmoreceram; continuaram a fundar conventos em lugares menos ameaçados. Sem dúvida, esta situação deve ter favorecido o surgimento de conventos na parte sul da Custódia, porquanto, de 1629 a 1650, foram fundados nove, cinco deles na parte que mais tarde passou a formar a Custódia da Imaculada Conceição.
Os franciscanos, como já referido, chegaram a este País, à época do Brasil-Colônia, instalando núcleos da irmandade em diferentes pontos do território. Não tiveram, contudo, o grau de influência dos jesuítas, os soldados da Companhia de Jesus, considerados integrantes de uma poderosa ordem religiosa da Igreja Católica, capaz de se opor ao Estado, e, ainda, enfrentar as autoridades civis, fazendo ingerências políticas em defesa das diretrizes ditadas por seus superiores. Interferências dessa natureza, promovidas pela Sociedade de Jesus, somente foram neutralizadas quando da expulsão dos jesuítas das terras portuguesas, decretada pelo Marquês de Pombal, redundando em um vazio educacional no Brasil dos tempos coloniais.
As duas ordens citadas exerciam, nas colônias lusitanas, trabalho missionário e catequético, diferindo, não obstante, nas estratégias de atuação. Os jesuítas, notáveis educadores, eram mais dogmáticos e detentores de um maior apuro teológico, com esmero latinista, enquanto os franciscanos eram mais pragmáticos, embora sem descuidar dos aspectos teológicos, valorizando elementos práticos, incluindo os trabalhos manuais.
Nesse sentido, Gilberto Freire, em sua obra prima “Casa Grande & Senzala”, conjetura que se a catequese brasileira, do período da colonização, tivesse sido dominada pelos franciscanos, nosso País teria se “tornado” um povo mais empreendedor e menos cartorial, mais técnico e menos bacharel.
Durante a fase Colonial, por uma questão talvez de proteção ou de garantia da integridade territorial brasileira, os missionários católicos, dentre os quais os franciscanos, eram oriundos de Portugal; até o século XIX, durante o Império, isso prevaleceu, certamente pela facilidade da identidade de idioma.
Prof. Marcelo Gurgel Carlos da Silva

* Publicado in: Força viva, 14 (147): 3, 2009. (Informativo da Paróquia Nossa Senhora das Dores, em Fortaleza-Ceará).

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