quinta-feira, 18 de março de 2010

O BRASIL ANEDÓTICO XIII

CERIMÔNIA... SEM CERIMÔNIA
Ferreira da Rosa - "O Jornal", de 2 de dezembro de 1925
Ao ser proclamada a República, era chefe de Policia da corte o dr. José Basson de Miranda Osório, o qual, ao ter conhecimento, pela manhã, dos acontecimentos do Campo de Santana, se dirigiu para a sua repartição, sentando-se, espapaçado, em sua cadeira, sem tomar a menor providência. Por volta das duas da tarde, apeou-se à porta da repartição o capitão do Exército Vicente Antônio do Espírito Santo, confiou o cavalo a um soldado, subiu a escada a arrastar o espadagão e, abrindo ele mesmo o reposteiro do gabinete, foi dizendo ao chefe:
- Eu venho, em nome do Governo Provisório, tomar posse da chefia da Policia do Distrito Federal.
E Bassou, levantando-se:
- E eu estou aqui para lhe entregar!
E, tomando o chapéu, retirou-se, numa reverência.
GRAVIDEZ E MOLE STIA?
Mensagem ao Congresso de Sergipe.
Era o dr. Rodrigues Dória presidente de Sergipe, quando uma professora pública, em adiantado estado de gravidez, pediu licença, com vencimentos, para "tratar da sua saúde", alegando "enfermidade". E o despacho do presidente foi este:
- "Indeferido; porque só pode ser reconhecida como enfermidade, pelo Estado, aquela que o paciente contrai involuntariamente. E não é esse o caso da requerente, que está "enferma", porque assim o quis"!
O CETICISMO DO GENERAL
Humberto de Campos - "Da Seara de Booz", pág. 57.
Poucos meses antes de tombar sob o punhal de Manso de Paiva, conversava Pinheiro Machado com alguns amigos no recinto do Senado, quando alguém aludiu à despreocupação com que o chefe conservador expunha a sua vida, tão ameaçada pela agitação do momento.
- Se eu tiver de tombar assassinado, - observou Pinheiro, a voz arrastada, quero que seja aqui no Senado, a punhal, como César.
- No dia em que isso acontecesse, general, - atalhou um áulico, - haveria uma hecatombe!
- Sim, - confirmou Pinheiro, com ironia.
E olhando em torno, como quem conhece a sua gente:
- Se o golpe falhasse...
ARTIGO ÚNICO
"A Manhã", do Rio, de 9 de janeiro, 1926.
Dois jornalistas, redatores d'A Manhã, do Rio, foram procurar Capistrano de Abreu, para entrevistá-lo sobre o problema social no Brasil. Ao encontrá-lo na rua, para solicitar-lhe um encontro, o erudito misantropo disse-lhes logo, hostil:
- Estou em casa sempre até às 11 do dia e depois das 9 da noite. Se quiserem ir, vão; se não quiserem, não vão. Para mim é indiferente.
No dia seguinte, houve a visita. O misantropo deitado em uma rede e cuspindo numa lata, achou que o país estava perdido. Tudo uma lástima. E concluiu, feroz:
- Agora andam falando em reforma constitucional. Querem atribuir os erros à lei.... Eu proporia que se substituíssem todos os capítulos da Constituição, decretando: "Artigo único: todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha"!
E cuspiu na lata.
O TRABALHO E A ESCRAVIDÃO
Antônio Ribas - "Perfil de Campos Sales", pág. 99.
A 15 de novembro de 1887 os fazendeiros paulistas promoveram ali um "meeting" para examinar a questão do elemento servil. Antônio Prado propôs a alforria geral, com a condição de prestarem os escravos aos antigos senhores três anos de serviço. Campos Sales é mais radical e, a propósito da fuga, exclama:
- Não, senhores; o escravo não foge ao trabalho, mas foge ao cativeiro.
E a um aparte contrário:
- Não é a pena do trabalho que o impele; é, sim, o horror da escravidão!...
JUMENTO SÁBIO
Alfredo Pujol - "Machado de Assis", pág. 28.
Francisco Ramos Paz, que legou à Academia Brasileira de Letras a sua coleção de clássicos e dez contos de réis em apólices, e que transmitiu a Machado de Assis o amor à boa linguagem, era português de nascimento e veio da sua terra aos nove anos de idade. A bordo, um passageiro perguntou-lhe se já sabia ler.
- Sei, sim, senhor - respondeu o pequeno.
O passageiro deu-lhe um livro que tinha consigo.
- Leia, então.
Ramos Paz abriu a brochura na primeira página (era o prólogo), e soletrou, pausadamente, acentuando cada sílaba:
- Pró-ló-gó...
- Muito bem, - declarou o desconhecido.
E batendo-lhe no ombro:
- É mais um jumento que vai para o Brasil!

Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)

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