quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O BRASIL ANEDÓTICO XIX

O MINISTRO E O ARTISTA
Henrique Marinho - "O Teatro Brasileiro", pág. 75.
O teatro S. Pedro de Alcântara havia sido edificado sob mau signo. Dois incêndios o haviam já destruído, quando, em 1856, sobrevem o terceiro. E tudo ficou reduzido a cinzas.
Empresário e diretor da Companhia, João Caetano, no meio do povo, no largo do Rócio, chorava como um possesso, arrancando os cabelos. Era a ruína, era a miséria completa que o assaltava. Não se pudera salvar, sequer, o arquivo!
Nesse momento, um homem grave, cortando a multidão, aproxima-se do grande ator:
- Tranqüilize-se, - pediu, batendo-lhe no ombro.
E ao ser ouvido, estancando as lágrimas do artista desesperado:
- O São Pedro será reconstruído! Era o marquês do Paraná.
A MÂE DOS REAVOS
Ernesto Sena - "Deodoro", pág. 170
Dona Rosa Paulina da Fonseca, mãe de Deodoro, ao saber do rompimento com o Paraguai, fez seguir para o campo de batalha seis dos seus filhos e, pouco depois, o sétimo, ainda de menor idade. Três deles tombam mortos, em Curupaiti e Itororó. Dois outros, entre os quais Deodoro, são gravemente feridos. Ao ter notícia, porém, de que se preparava a paz com o inimigo - paz sem vitória, - não se conteve.
- Prefiro não ver mais meus filhos! - declarou.
E com a sua alma varonil:
- Que fiquem antes todos sepultados no Paraguai, com a morte gloriosa no campo de batalha, do que enlameados por uma paz vergonhosa para a nossa Pátria!
CASAS SEM QUINTAL
Anotado pelo autor.Em palestra sobre Machado de Assis, na sua sala de trabalho, Coelho Neto, o romancista do Rei Negro, manifestava mais uma vez a Humberto de Campos a sua estranheza em relação à arte do criador de Brás Cubas. Apaixonado pela Natureza portentosa, Neto não compreendia que Machado de Assis não se impressionasse com a moldura maravilhosa em que fazia mover os seus personagens.
E de repente, resumindo tudo:
- Já reparaste que a casa de Machado de Assis não tem quintal?
O DEFEITO DOS MENDONÇA
Moreira de Mendonça - "Mosaico Brasileiro", pág. 15.
Entre as muitas rixas que lhe atormentavam a vida, teve Gregório de Matos, o terrível satírico baiano, uma com o vice-rei do Brasil, D. Afonso Furtado de Mendonça Castro do Rio e Menezes.
Passava esse fidalgo, um dia, por uma rua da cidade, quando o poeta sacudiu a cabeça, num gesto significativo:
- É célebre! - disse. E de mão no queixo:
- Ainda não vi um Mendonça que não tenha "Furtado"!
NA HORA DO PERIGO
Ernesto Sena - "Deodoro"Eram cinco e meia da manhã de 15 de novembro quando Benjamim Constant chegou ao quartel do 2° Regimento de Artilharia. Pulou do carro, em que o acompanhava o 2° tenente Lauro Müller, e, recebido pela oficialidade, declarou, feliz:
- Estou entre os meus amigos! Chegou o momento de ver quem sabe morrer pela Pátria!
E momentos depois, com entusiasmo, enquanto vestia a sua farda de tenente-coronel:
- Ainda há dignidade na classe militar!...
AMOR DE FILHO
"A Manhã", de 27 de janeiro de 1927.Poeta de delicada sensibilidade, Francisco Mangabeira, irmão dos oradores João e Otávio Mangabeira, havia partido para o Alto Amazonas, a lutar pela vida. Minado pelas febres da região, voltou, e, no regresso, pela altura do rio Gurupi, entre o Pará e o Maranhão, foi assaltado pelos suores da morte.
- Morro sem abraçar meu pai...
E morreu.
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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