sábado, 20 de novembro de 2010

DEZ ANOS DE SAUDADES


Meu pai, hoje, 02/11/2010, Dia de Finados, fomos à nossa necrópole, para lhe deixar uma preciosa companhia em seu machadiano leito derradeiro, em que, hipocraticamente, descansa desta curta vida. Sua irmã primogênita, a nossa querida Tatinha, retornou à mansão de Deus, e, em atendimento ao que ela pedira, seus despojos se juntaram aos dos seus familiares mais próximos, genitores e seus irmãos, que consigo compartilham desse seu jazigo, no campo santo do São João Batista.
Há sete anos, o tio Zezinho, como bom professor de História do Brasil que era, faleceu no Dia da Pátria. Agora, dos seus tão amados irmãos, somente resta, entre nós, o caçula, tio Valter.
Neste novembro, dia 20, se completam dez anos de sua partida, para a morada eterna, e, enquanto escuto o Requiem em ré menor K 626 de Mozart, as saudades afloram, e ponho-me a digitar uma pretensa carta, que não será enviada pela ECT, nem pela via eletrônica, à conta da falta de um endereço definido, talvez situado nos páramos celestiais, onde, por certo, não há conexão de internet. No entanto, como destinatário desta missiva, sinto que o senhor gostaria de ter ciência da trajetória de vida dos seus entes queridos.
Em momentos de saudades, recorro a Santo Agostinho, ante a morte, que assim se expressou: “A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do caminho. Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês continuarei sendo. Dêem-me o nome que vocês sempre me deram, falem comigo como vocês sempre falaram. Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador. ... Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do caminho... Você que aí ficou, siga em frente. A vida continua, linda e bela como sempre.”
Por isso, meu pai, trago-lhe boas notícias, pinçadas entre tantas coisas agradáveis que aconteceram no seio da sua família, que continua crescendo. Seis dos seus netos, então adolescentes, em 2000, casaram e quatro deles já geraram seis bisnetos, na presente década, para compor sua descendência. Todos os netos chegaram ao ensino superior e a maioria deles foi diplomada, estando inserida no mercado de trabalho e/ou envolvida em pós-graduação.
Seus filhos continuam progredindo na vida profissional, colecionando feitos que o encheriam de júbilo. Ao recordar da sua alegria, quando, em 1999, fui aprovado com nota máxima, no concurso para professor titular da Uece, fico a imaginar o seu incontido envaidecimento, diante da investidura da sua filha Meuris, como professora titular concursada da afamada Unicamp. Com a formatura do Luciano, em Direito, somam quatro filhos abraçados à mesma carreira jurídica, que tão bem exerceu com dignidade e competência, até a quase exaustão de suas forças físicas. Magna terminou mais um curso de especialização. Mirna, após a obtenção do diploma de Mestrado, está atualmente na Espanha, cumprindo parte do programa de doutoramento na Universidade de Santiago de Compostela. Sérgio prossegue o doutorado em Direito em Buenos Aires.
Talvez o melhor produto da família, na presente década, foi o desenrolado no correr de 2007, quando nos juntamos para organizar e escrever “Dos Canaviais aos Tribunais: a vida de Luiz Carlos da Silva”, um livro que resgata a sua bela história de vida, servindo de exemplo da reverência à figura paterna, cujo lançamento deu-se, em janeiro de 2008, comemorando o seu nonagésimo aniversário, caso estivesse vivo. Além de reforçar os laços fraternos, entre os seus descendentes diretos, a obra foi demais reveladora, por tornar público o seu passado literário, de um escritor de vastos recursos, condição ignorada por muitos.
Como desdobramento dessa realização, foi publicado um segundo livro, discorrendo sobre o nosso bairro Otávio Bonfim, sob o olhar de nossa família, e ainda usamos parte de sua biografia, para compor o personagem central de um romance epistolar e de uma peça de teatro, combinando realidade e ficção.
Em 09/09/10, a sua família esteve reunida para celebrar os oitenta anos da nossa matriarca, a sua Elda, com quem manteve o vínculo matrimonial por 53 anos, rompido pela sua saída terrena. Aos domingos, à noite, seus filhos estão sempre com ela, para uma ceia, enquanto conversam e traçam planos de novas empreitadas.
Pois é, pai. Nós que aqui ficamos, ainda que envoltos em saudades, por sua partida deste mundo, seguimos adiante, progredindo, mas velando por sua memória, até que Deus faça o nosso reencontro espiritual, em Sua morada eterna.
Com as lembranças do seu saudoso filho.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
* Publicado In: Jornal O Povo. Fortaleza, 20 de novembro de 2010. Jornal do Leitor. p.2.

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog