segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O BRASIL ANEDÓTICO XXI

UM TROCADILHO
Informação do professor Raul Pederneiras.Guimarães Passos era, como se sabe, tuberculoso, e vivia em perpétua luta com a moléstia insidiosa. Um dia, aparece nas livrarias o Tratado de Versificação Portuguesa, do autor dos Versos de um Simples, e cujo produto ele reservava para uma viagem à Europa, onde pretendia curar-se.
- Coitado do Guima! - comentou Emílio de Menezes uma tarde, na antiga Colombo.
E simulando pena:
- Desde que o conheço, que ele, coitado, tem "tratado de ver se fica são"!...
O "JOGO DE CENA"
Raul Fernandes - Discurso na Academia Fluminense de Letras, 1924.
Nilo Peçanha, como orador, impressionava mais pelo gesto do que pela palavra. Em uma das suas excursões pelo interior, acabava ele de discursar em Rio-Bonito, quando um tabaréu que ouvira Sizenando Nabuco como advogado e Ciro de Azevedo, que começara como promotor daquela comarca, se acercou do chefe fluminense.
- Sim, senhor, Sr. doutor! - exclamou.
E com entusiasmo:
- Oradores, conheci dois na minha vida: Sizenando Nabuco e Ciro de Azevedo. Mas "jogo de cena" como o seu, nunca vi!
A ESPINGARDA VELHA
Tobias Monteiro - "Pesquisas e Depoimentos", pág. 246.
Na manhã de 15 de novembro, Floriano foi à casa de Deodoro, a convite deste, para se entenderem definitivamente sobre o movimento preparado. Floriano admitia a hipótese de uma conciliação. Deodoro insistiu pela manifestação armada. Floriano cedeu.
- Enfim - declarou - se a coisa é contra os "casacas", lá tenho a minha espingarda velha!
PECADO OU VIRTUDE
Leôncio Correia - "Correio da Manhã", 17 de julho de 1927.Era o general Osório ministro da Guerra, quando, tendo-se aberto uma vaga de brigadeiro, levou ao Imperador, em um dos despachos, o decreto promovendo um coronel de brilhantíssima fé de ofício. O soberano deixou ficar o decreto e, no despacho seguinte, recorreu a um subterfúgio qualquer, para evitar a promoção.
- Majestade - objetou o ministro, - o oficial cujo nome apresento como digno do novo posto, é, como homem e como soldado, absolutamente merecedor de respeito. Se, entretanto, Vossa Majestade tem conhecimento de algum fato em contrário, será serviço a mim e ao Exército revelá-lo.
- É muito moço... - declarou o Imperador, como desculpa.
- Pois, melhor, - tornou o ministro.
- Poderá, mais a miúdo, inspecionar as nossas fronteiras.
Pedro II olhou em torno, e, chegando a boca ao ouvido do ministro:
- E dizem que é muito mulherengo...
A essas palavras, Osório desatou a rir:
- Mas, isso é até uma virtude, Majestade! Se isso impedisse promoção...
E com os seus modos francos:
- Eu ainda hoje seria soldado raso!..
O "NEGRINHO" REAL
Alberto Rangel - "Pedro I e a Marquesa de Santos", pág. 97
Certa vez, regressava Pedro 1 de um passeio aos subúrbios, quando, em caminho, encontrou D. Domitila, a futura marquesa de Santos, que vinha de liteira. De um salto, apeou-se do cavalo, conversou um pouco à portinhola e, após um momento, afastando um dos escravos, suspendeu a liteira, pelos varais.
- Como V. A. é forte! - fez a sedutora brasileira, num suspiro de admiração. - Como V. A. é forte!
Chamados os oficiais da escolta, mandou Pedro I que estes substituíssem, num trecho do caminho, os pretos que carregavam a namorada. Esta ria, encantada. E ele, feliz:
- Nunca mais V. Excia. terá uns "negrinhos" como estes!
BURRICE GERAL
Osório Duque-Estrada - Discurso de recepção na Academia Brasileira de Letras.Desbraguilhado de boca, Sílvio Romero não escolhia meios de expressão, quando se via aborrecido ou cansado. Professor da Faculdade de Direito, entrou ele, um dia, na sala, quando se sentiu, de súbito, incomodado de saúde.
- Não dou aula hoje, - declarou, enfadado, aos alunos que esperavam, atentos, a sua palavra.
E levantando-se:
- Estou hoje muito burro para falar; e vocês ainda mais burros para me compreenderem!
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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