domingo, 2 de janeiro de 2011

MÉDICOS NA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS

No Ceará, a Academia Cearense de Letras (ACL), cronologicamente considerada a primeira do Brasil, fundada em 15 de agosto de 1894, portanto, três anos antes da Academia Brasileira de Letras, e que teve por inspiração a Academia de Ciências de Lisboa, contou, dentre os seus 27 fundadores, com três médicos: Adolfo Luna Freire, Eduardo Salgado e Guilherme Studart (o Barão de Studart).
Ao longo de sua história, ingressaram na ACL 178 acadêmicos, dos quais 18 (10%) exerciam a Medicina, no momento da admissão. Além dos três fundadores já mencionados, foram eles, por ordem de ano de ingresso, os médicos: Fernandes Távora (1922), Jorge de Souza (1922), José Lino da Justa (1922), José Sombra Filho (1922), Otávio Lobo (1922), Carlos Studart Filho (1930), Leite Maranhão (1951), Florival Seraine (1965), Aderbal Sales (1974), Lúcio Alcântara (1978), Newton Gonçalves (1979), Vinicius Barros Leal (1984), Pedro Henrique Saraiva Leão (1986), Argos Vasconcelos (1990) e José Murilo Martins (1991).
O dom que tem alguns médicos para escrever, já revelado anteriormente, confirma-se no quadro atual de acadêmicos da ACL que computava quatro profissionais da Medicina, entre os seus quarenta imortais, até bem recentemente: Pedro Henrique Saraiva Leão, José Murilo Carvalho Martins, Lúcio Gonçalo de Alcântara e Vinicius Antonius Holanda de Barros Leal; honrando o sodalício, com suas participações, o primeiro deles, inclusive, ocupa, no momento, a Presidência, enquanto o segundo, foi o último presidente do silogeu.
Julgamos oportuna a iniciativa de traçar aqui o perfil dos médicos pertencentes à ACL, focalizando, em especial, as suas respectivas produções literárias, para que se tenha uma idéia mais consistente sobre como sabem eles vivenciar, na prática, a lição de Tcheco. Ei-los, portanto:
Vasto e de excelente qualidade, é o conjunto de obras publicadas, de autoria de Lúcio Alcântara, através das quais ele revela as nuances de um espírito às vezes lírico, às vezes denso, mas sempre deixando prevalecer um lado humano, muito afeito à questão social, fruto de sua atividade como homem público, alinhado às inquietudes de um tempo que exige de si uma dedicação quase que exclusiva. Prova disso está na sua produção intelectual, no campo literário, a seguir discriminada: Um Compromisso Interior (1973); O Descompasso dos Tempos (1975); Sinos da Consciência (1975); Um Médico Vê o Homem (1976); Dois Discursos Acadêmicos (1978); Inquietações que Fazem Escrever (1986); Pequenos Escritos (2001); A Casa da Minha Avó – Poesia (2006); O Rio da Minha Infância – Poesia (2006); Blog de Papel (2008).
A extensa produção intelectual de Murilo Martins está expressa em cinqüenta e sete artigos, de inegável valor científico, e em catorze livros, a começar por “English for the Foreign Physician”, publicado ao tempo em que estudava nos EUA, com grande sucesso editorial de vendas resultante de seis reimpressões, seqüenciado pela produção de obras de valor estimativo, histórico ou literário, como: Uma Realidade - Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (1979); Isto não se Aprende na Escola (Co-autoria); Um Tiquim do Ceará (1989); O Médico Antônio Jucá (1990); Medicina Meu Amor (1990); Personalidade do Ano - Antônio Martins Filho (Co-autoria); Faculdade de Medicina da UFC: professores e médicos graduados (cinco volumes publicados de 1998 a 2003); Minha Escola Tem Nome Tem História (2000); O Rotariano Martins Filho (2004); Antologia do Centenário da Academia Cearense de Letras (2008); Navegando no Mar da Medicina (2009); e Poetas da Academia Cearense de Letras (2009).
Durante sua formação acadêmica, Pedro Henrique Saraiva Leão foi professor de inglês do Instituto Brasil-Estados Unidos (IBEU) e responsável por página literária de Informes Médicos do “Jornal O Povo”. Ex-presidente estadual e nacional da Sobrames, é poeta, com muitas de suas poesias reunidas e divulgadas em livros e revistas literárias. Tem sete livros publicados em Literatura: 12 Poemas em Inglês (1960); Ilha da Canção (1983); Concretemos (1983); Poeróticos (1984); Meus Eus (1995); Trívia (1996); e As Plumas de João Cabral (2002). É membro integrante das Academias Cearense de Letras, Cearense de Medicina e da Academia de Letras e Artes do Nordeste (ALANE). Fundador e editor chefe da Revista Literapia. Atualmente, é Presidente da Academia Cearense de Letras.
Vinicius Barros Leal, que retornou ao Pai em 13 de abril de 2010, destacou-se, na Literatura cearense como cronista, ensaísta, memorialista, genealogista e historiador. Publicou diversos livros, dentre os quais se sobressaem: "História da Medicina no Ceará" (Prêmio Governo do Estado do Ceará); "Villa Real de Monte Mor, o Novo D'América" (história de seu município natal na época colonial); "A Colonização Portuguesa no Ceará – O Povoamento"; "Bumba-meu-boi" (Prêmio Leonardo Mota); "Dom Antônio de Almeida Lustosa, um Discípulo do Mestre - Manso e Humilde" e “Padre Artur Arredondo: um modelo de Mansidão e Amor a Deus”. Contribuiu, além disso, com extensa produção sob a forma de artigos na imprensa, nos Anais da Academia Cearense de Medicina e na Revista do Instituto do Ceará.
Em 2006, eram, por sinal, médicos, dois dos três postulantes à vaga da ACL, em disputa aberta, face ao desaparecimento do jornalista e escritor João Clímaco Bezerra, radicado no Rio de Janeiro, durante as suas últimas décadas de vida. A sentida perda, àquele momento, para a cultura cearense, repete-se agora quando a ACL, acaba de se vestir de luto, diante do passamento do acadêmico Vinicius Barros Leal, que diminuiu a participação dos médicos no quadro efetivo da Academia, pelo que, em breve, deverá ser aberto edital para preenchimento da cadeira em vacância. Bom seria que essa vaga viesse a ser ocupada por um médico, pinçado entre tantos iátricos identificados no Ceará, que exercem o duplo ofício de curar o corpo e cuidar da alma, ostentando grande capacidade literária.
Prof. Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Membro da ACM e da SOBRAMES-CE
* Publicado In: Literapia (Revista de Escritores Cearenses), de dezembro de 2010 – ano VIII, n.19, p.33-5.

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