domingo, 19 de junho de 2011

QUEM COBRA, CAI. QUEM PAGA, FICA.

Por Ricardo Alcântara (*)
O país ficou escandalizado com o fato de Antonio Palocci ter multiplicado por vinte vezes seu patrimônio em poucos anos. A reação da opinião pública custou a ele o posto que ocupava como mais poderoso ministro do governo.
A demissão de Palocci – breve chuva em dia de verão – esgotou o potencial de interesse da notícia, como se o entulho que ela denunciara – não somente ético, mas em seu aspecto maior, político – tivesse sido removido.
Ninguém mais se mostra preocupado com o assunto. A ninguém parece relevante esclarecer como é que algumas dezenas de milhões foram parar na conta bancária de um deputado federal assim, de uma hora para outra.
Não se pretende saber quem pagou tão caro a ele, nem que serviço prestou para merecer tamanha recompensa. Ninguém mais quer saber se o bem público – o seu, o meu, o nosso dinheiro – foi lesado ou não. Tanto faz.
Imolado o cordeiro no altar dos sacrifícios, espiadas estão todas as culpas e encerrado o episódio. Sob suspeita de ter vendido vantagens indevidas, caiu o ministro, mas o possível corruptor que o teria comprado escapou ileso.
Tedioso, porque óbvio demais, mas sempre necessário, é lembrar que o corruptor permanece impune porque o país pertence, de fato, a ele, que passa por cima das leis fracas e por baixo das mais fortes, e não a você.
Para obter vantagens, subornam os que tomam decisões na esfera pública, financiam as campanhas eleitorais dos governantes e suas verbas publicitárias decretam a lei do silencio aos grandes veículos de comunicação.
O ministro caiu, mas, logo no dia seguinte, tudo que dele se suspeitara continuou a ser praticado em Brasília em atos rotineiros da promiscuidade crônica que casa e batiza nas relações entre o público e o privado no país.
O dano que episódios como aquele causam é de maior monta que os valores subtraídos: é a contaminação do sistema representativo pela legião viral de agentes que privatizam o Estado e sabotam o interesse comum.
Não é exclusivamente pecuniário, mas institucional e sistêmico, o dano que se impõe, triunfal e indissolúvel, também agora, quando os sujeitos são aqueles que anteriormente foram portadores das melhores esperanças.
Agora, quando se pretende discutir uma Reforma Política, menos relevante do que o debate pontual sobre esta ou aquela proposta – financiamento, voto em lista, reeleição – é formar um consenso sobre o que dela se pretende.
A legislação necessária deve reduzir ao seu ponto de equilíbrio a influência do poder econômico nas decisões tomadas por agentes públicos, ampliando o potencial de representatividade do sistema democrático. É isso ou nada.
Caso contrário, haverá pelo menos um Palocci entre um equinócio e outro, um parlamento habilitado a extorquir a presidência, uma máquina pública rendida à pirataria - enfim, uma democracia mais consentida do que estimada.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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