quinta-feira, 25 de agosto de 2011

HOSPITAL HAROLDO JUAÇABA

Por Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
A caridade sempre foi a maior virtude do Cristianismo. Assim, ao longo da Idade Média, em Roma originaram-se os hospitais. O primeiro deles, público, foi criado ao tempo do Imperador Claudius. Nasceram, em hostes militares, como fundações pias, para a prática da caridade.
Basicamente hospedarias, forneciam alimentos, calor, e abrigo para pobres, doentes, feridos. Em verdade, eram “hospitéis”. Também ali, Fabíola, nobre e rica romana convertida ao Cristianismo, primeira enfermeira reconhecida como tal, fundou o pioneiro hospital de caridade, dando origem às futuras Santas Casas da Misericórdia.
Àquela época tais hospitais denominavam-se lazaretos, lembrando Lazaro, o leproso da Bíblia, e a então altíssima incidência dessa moléstia. Desde os tempos mais obscuros, abundam nosocômios (hospitais) com nomes de santos: Santa Maria, São Bartolomeu, São Tomaz, São George, São Carlos, todos em Londres; São Benedito (Roma), Santo Antônio (Paris), São Sebastião (Nuremberg), Santa Maria Nuova (Florença), e aqui São Raimundo e São José.
Para esta lista ser hagiologicamente (relativa aos santos) completa, criou-se o Hospital de Todos os Santos, talvez pela ânsia de acumular padroeiros. Especulando, atribuiríamos isso à influência da Igreja Católica, insistindo no caráter expiatório das doenças, presumivelmente enviadas do céu para castigar e “redimir” os pecadores, e à impotência da Medicina naquelas recuadas eras. Essas circunstâncias condicionavam os enfermos a recorrer à divindade e seus santos, seus advogados.
Modernamente, a despeito do alto poder da Medicina, não seria prudente para nós, cristãos, descurar da corte celeste. Contudo, é bem batizarmos tais lugares com nomes de santos modernos, mantenedores da nossa integridade física e mental. Devemos homenagear não as doenças, mas aqueles que as combatem. Destarte, louve-se alguns nomes no Ceará: Hospital Pontes Neto (Quixeramobim), César Cals, José Frota, Waldemar Alcântara.
Ademais, a palavra “câncer”, cunhada por Hipócrates, por semelhar o caranguejo, a mover-se devagar em todas as direções, hoje virou tabu, substituída por “aquela doença”, “pertinaz moléstia”. Impressionou até aos mestres da Teoria Literária, e Marisa Lajolo afirmou ser o melhor exemplo do medo provocado por certas palavras, como mencionado no meu livro “Câncer Colo-retal” (Ed. UFC, 1984).
Tal palavra equivale ao temor criado pela peste, lepra, sífilis, tuberculose, d’antanho, ou a AIDS, de hoje. Para alguns é um anátema (maldição) ou estigma (marca deixada por ferida). Ninguém quer-se referido, ferrado como canceroso. Por tudo isso, o nosso Hospital do Câncer devia chamar-se Hospital Haroldo Juaçaba, paladino no seu combate neste Estado. Escolhido pela Faculdade de Medicina da UFC, saudei-o como professor emérito em 18/4/1991. Esta ideia luminosa, logo por mim desposada, é do eminente sociólogo, antropólogo Gilmar de Carvalho. Parabéns, professor!
(*) Médico e presidente da Academia Cearense de Letras
ph.saraivaleao@bol.com.br
Publicado In: O Povo/ Opinião, 25/05/2011.

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