terça-feira, 8 de novembro de 2011

A PEQUENA LOUCURA DO PODER

Por Ricardo Alcântara (*)
Observadores que privam da intimidade do poder garantem que a prefeita Luizianne Lins já chegou a um acordo com os principais líderes do seu partido e fixou os nomes que poderão representá-la como candidatos.
Em nenhuma lista mais – são tantas, todas com crivo oficioso – consta o nome do secretário Camilo Santana, com quem Cid Gomes pretendia acalmaria os ânimos de seus aliados mais próximos, dispostos ao confronto.
A fórmula convencional indicaria como caminho mais fácil para uma solução consensual a exclusão daquele nome, sim, mas também o sacrifício de outros, mais ligados à prefeita, como Waldemir Catanho e Elmano Freitas.
Até aqui, o governador segue em linha reta: autoriza a versão de que prefere manter a aliança com o PT. Mas qual PT? Pelo ânimo manifestado pelos homens fortes do seu partido, é fácil concluir: o mais dócil possível.
Como somente na superfície das aparências é possível simular que divergências programáticas poderiam ser determinantes, não seria pragmático uma ruptura já, embora convenha subestimar fatores subjetivos.
Não é tão raro que os políticos, quase sempre retratados como raposas sagazes, de pensamento objetivo, contrariem tais expectativas e se lancem em aventuras intempestivas. Os exemplos, remotos e recentes, estão por aí.
A pequena loucura do poder não poupa de seus efeitos danosos aquele que, cercado pelos que sempre lhe dizem o que pretende ouvir, é acometido de surtos egóicos aleatórios e se descola da realidade. Exemplos? Dispensável.
Muitos vestiram o pijama mais cedo por se recusar a pagar o preço de concessões que lhe pareceram onerosas, mas que, ao fim, se mostraram bem mais em conta, dadas as sequelas de uma aposentadoria precoce.
Em política, considere o que os adversários esperam de você: eles poucas vezes se enganam. Logo, a boa norma recomenda contrariá-los, salvo as exceções que estão por aí cumprindo sua função de confirmar a regra.
Pois todos os adversários de Cid e Luizianne, e alguns aliados também, desejam vê-los em confronto, abrindo espaço para que possam retomar boa parte do protagonismo perdido e reinventarem um novo começo.
Caso mantenham-se a salvo daquela “pequena loucura” mencionada, verão o governador e a prefeita que a maior parte da força política de um e outro emana da própria aliança. Isoladamente, são bem menores, ainda.
Mesmo que isto afronte os egos mais inflados, a estabilidade de ambos ainda se sustenta mais sobre a manutenção do amplo concerto partidário do que de uma provável sedimentação da liderança individual de cada um deles.
A ruptura seria um irresistível apelo para o lançamento de outros candidatos cuja densidade eleitoral, mesmo sob base partidária mais frágil, tornaria pouco previsível o saldo político do resultado eleitoral.
Juntos, eles mandam e os outros obedecem. Separados, não serão os únicos. No entanto, se preferem pagar para ver, que soltem os cachorros. E aguardem por 2014, a hora em que a onça virá beber água.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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