terça-feira, 30 de outubro de 2012

Tédio eleitoral em um domingo de sol

Por Ricardo Alcântara (*)
Neste domingo, a cidade saberá: Elmano ou Roberto. Não é bom sinal para a democracia – afinal, conquistada com tantos sacrifícios – que uma campanha tão acirrada, disputada voto a voto, esteja mobilizando tão pouco o sentimento da cidade – uma apatia que nos denuncia e nos cobra.
Os fatores que determinam o desapreço dos brasileiros pelo sistema representativo seriam menos agravantes se das três décadas em que vigora o Estado de Direito tivesse o cidadão herdado um país pior. Ao contrário, malgrado os problemas relacionados à violência, temos hoje um Brasil melhor.
Foi paga a “impagável” dívida externa e vencido um ciclo inflacionário crônico, temos uma moeda forte e o ensino básico universal, quarenta milhões de pessoas saíram da pobreza e o salário mínimo aumentou. O Brasil está entre os grandes. Foi menos do que sonhamos, mas não é pouco.
A apatia não decorre tampouco de uma vocação cultural antidemocrática. É consensual que a tolerância às diferenças é um traço da nossa identidade, mesmo porque entre nós não há diferenças culturais agudas a nos desafiar: falamos a mesma língua e, sob a cruz, temos quase a mesma cor.
Os brasileiros estão apáticos diante da cena política porque não reconhecem, entre os partidos, já que em torno deles é que a atividade política se ordena, nenhuma diferença fundamental. “Político” – cada vez mais eles se convencem (e são convencidos disso pela realidade) – “é tudo igual”.
Veja o caso de Fortaleza. Neste domingo, decidiremos entre dois candidatos que eram ilustres desconhecidos dos eleitores até cem dias atrás, foram aqueles que demonstraram maior poderio econômico na campanha e foram aliados nos anos recentes e até o dia da convenção ainda eram.
Ainda mais difícil, portanto, seria contagiar com sentimento cívico eleitores já contaminados pelo noticiário rotineiro de Cachoeiras e Mensalões que revelam em suas tramas o ilícito e indistinto envolvimento de caciques políticos vinculados a todo o espectro partidário – sem exceção.
A esperança de Elmano reside na tendência majoritária entre os indecisos (41%) de decidir-se por ele. A esperança de Roberto Cláudio é que a intensificação da discussão pública que antecede ao dia da eleição incite a elevada rejeição de parcela do eleitorado à prefeita e comprometa o seu candidato.
Agora, votaremos – a maioria, porque assim manda a lei. A democracia brasileira vencerá mais uma vez pela gratificante afirmação de sua normalidade e perderá pela exposição reiterada da indiferença crescente dos eleitores diante do resultado que sua prática é capaz de produzir. Nós merecemos mais.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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