sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O mito técnico

Por Ricardo Alcântara (*)
Repetiram-se com Luizianne Lins contradições que antes acometeram a quem, como ela, saltou – e não impunemente – do confortável discurso radical para a aspereza da prática gestora. Muito daquilo que, como vereadora, ela condenou, praticou quando prefeita.
Um exemplo citado com frequência é o loteamento de cargos públicos entre aliados que lhe deram sustentação política na Câmara dos Vereadores, o que explicaria em parte os bolsões de ineficácia de sua gestão, reconhecidos até mesmo por quem lhe deu apoio.
O prefeito eleito ofereceu como gesto de renovação – tal como houvera prometido em campanha – a indicação de muitos quadros técnicos para o seu secretariado. Roberto Cláudio não blefou: ilustres desconhecidos subirão à ribalta no dia primeiro.
Ouvi por conta das escolhas efusivas loas ao perfil da equipe. O termo, “técnico”, sempre mencionado no campo semântico oposto à “politicagem” – música para a opinião pública, escaldada na sangria do mensalão e nas derrapagens da gestão que se despede.
Houve pressa em firmar o atestado de boa conduta. Se a indicação de técnicos sinaliza a vontade do prefeito em dar presteza ao serviço público, ela não é, por si apenas, garantia de que as decisões estarão imunes ao mau contágio de interesses políticos indevidos.
Afinal, pela amplitude dos apoios recebidos, e a vultosa soma de recursos espalhada na campanha eleitoral, melhor aguardar um pouco mais. Logo veremos – e bem cedo – se às indicações técnicas corresponde a blindagem que os arautos se apressaram em vender.
Cargo de confiança entregue a técnico, sem força política própria, pode até significar o oposto: um biombo vulnerável a pressões de toda ordem. É no Palácio do Bispo que se define o que é inegociável. Limite, coloca quem foi eleito. O resto é perfumaria.
Se faltou eficiência em medida maior do que a aceitável em alguns setores da gestão que se despede, a cidade espera que a pretendida restauração da competência se dê em favor do interesse público e do bem comum. Enfim, que a boa técnica não sirva à má política.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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