terça-feira, 26 de março de 2013

TAJ MAHAL MUNICIPAL



Os cidadãos cearenses, e o fortalezense, em particular, no período pré-eleitoral, foram bombardeados por inserções publicitárias, em diferentes mídias, dando conta das realizações dos respectivos governos, estadual e municipal, no campo da Saúde.
O governo do Ceará arrolava, entre as suas maiores obras, a construção de três grandes hospitais regionais no interior, edificações que se completavam com uma rede de hospitais-pólo, policlínicas, unidades de pronto atendimento (UPA) e centros de especialidades odontológicas (CEO).
Pior quadro era o da Fortaleza Bela, cuja propaganda estava quase inteiramente focada na suposta enorme e dantesca obra, o Hospital da Mulher de Fortaleza, como se fora um Taj Mahal, de um viúvo, sofrido e apaixonado. Ainda sem nome oficial, esse rótulo era anunciado, tal qual uma epopeia homérica, como se fosse um sambinha de uma nota só, a propalar a redenção feminista da cidade.
Entre o lançamento da proposta, na campanha eleitoral de 2004, e sua recente pseudo-inauguração, revestida de simbolismo político, esse hospital já consumiu oito anos, e, por certo, há de requerer mais uns dois anos, para se pôr em funcionamento adequado, igualando ao tempo exigido dos gregos para destruírem Troia.
Apesar do largo tempo percorrido, a prefeitura da capital não cuidou de preparar os recursos humanos necessários ao colossal equipamento, optando por remover quadros de suas já combalidas e sucateadas estruturas hospitalares, para preencher os lugares do novo hospital, configurando uma ação temerária.
Ademais, ao optar pelo formato hospitalar, a fim de prestar um serviço complexo, cuja praxe é ser ofertado em ambulatório, a prefeita Lins deixará à posteridade sucessora um legado de cara manutenção, que sorverá importantes somas, desfalcando os recursos que seriam melhor aplicados na sua rede hospitalar preexistente.
Trata-se o empreendimento de uma malfadada herança reservada ao atual alcaide, cabendo a ele concluir a obra e adequar o seu funcionamento, dando o direcionamento mais apropriado, como um hospital geral e maternidade, desfazendo a utópica hipertrofia de sua exclusividade às questões da saúde reprodutiva feminina.
Prof. Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico-sanitarista e Economista da Saúde

* Publicado In: Jornal do SIMEC. Fortaleza, fevereiro de 2013. p.8. (Órgão do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará).

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