quarta-feira, 31 de julho de 2013

O BRASIL ANEDÓTICO LV



O INDUSTÃO E A SIBÉRIA
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. III, pág. 390.
Habituado aos debates quotidianos na Câmara, onde iam rebentar todas as paixões intensas do tempo, Antônio Carlos sentiu-se, naturalmente, deslocado ao ser escolhido senador em 1845. Se a Câmara era a agitação, a luta, o choque das idéias e dos interesses, era o Senado a tranquilidade, o repouso, a calma, filha da fadiga e da experiência.
Ao ser empossado nessa ante-sala da morte, o vigoroso tribuno verificou, logo, que o ambiente ia amortecer a sua notoriedade. E tentou reagir, num discurso fulgurante, magistral, comparando as duas casas, tão diversas na sua atuação política.
E exclamou, a certa altura
- Eu venho dos ardores do Industão para os gelos da Sibéria!...
O PORTUGUÊS DE LABATUT
Visconde de Taunay - "Trechos de minha vida", pág. 27.
Incorporado ao Exército brasileiro com o posto de major, Carlos Augusto Taunay, tio do visconde de Taunay, seguiu para a Bahia, a fim de dar combate, ali, ao remanescente das tropas portuguesas comandadas pelo general Madeira. Metendo-se, porém, a criticar os planos do general Labatut, contra o qual conspirava, foi preso e condenado à morte.
Esperançoso, todavia, de salvar-se, pediu Carlos Taunay adiamento da execução, alegando o desejo de confessar-se antes de morrer.
Labatut condescendeu, mas não perdoou. E a sua resposta foi esta, num português arrevesado:
- "Confissa ou non confissa, ma fussila!"
IMPERADOR, MAS CONSTITUCIONAL
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. III, pág. 227.
De regresso de Minas Gerais, a 11 de março de 1831, Pedro I encontrou a capital do Império em grande efervescência, a qual se acentuou no dia 12.
Nessa noite, grupos de portugueses, querendo prestigiar o seu antigo príncipe, hostilizado pelo elemento indígena, saíram à rua, gritando:
- Viva o Imperador!... Viva o Imperador!...
Os brasileiros natos formaram, por sua vez, os seus grupos, e partiram ao encontro dos primeiros, mas com este grito:
- Viva o Imperador enquanto Constitucional!...
UMA FALA DO TRONO
Alberto Rangel - "Pedro I e a Marquesa de Santos", pág. 40.
Informado de que os seus adversários pretendiam aproveitar a "fala do trono", em 1830, para continuar fora da Câmara a campanha sistemática iniciada contra a sua pessoa, resolveu o Imperador antecipar-se na agressão, tomando a ofensiva.
Aberta a sessão gravemente pelo monarca, pôs-se este de pé, e, desenrolando uma folha de papel, começou:
"Augustos e Digníssimos Representantes da Nação".
E imediatamente:
"Está fechada a sessão".
O pasmo dos circunstantes foi indizível. Todos se entreolharam, aflitos, atônitos, assombrados. E foi no meio dessa estupefação, que o Imperador desceu, soberbo, os degraus do trono, exclamando, como num desafio:
- É isto mesmo!
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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