segunda-feira, 15 de julho de 2013

RONDONIZAÇÃO





Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
  "Para analistas do Projeto Rondon, os alunos ensinam os moradores de zonas carentes a tratar doenças"
Nada a ver com rondó, tipo de poesia ou de música, na Alemanha e na Itália. Nem com randomização, seleção aleatória, fortuita, sem objeto definido. Randomização, termo inicialmente usado em agricultura, passou a integrar a terminologia médica.
Refiro-me ao marechal Cândido Mariano da Silva Rondon (1865–1958) filho de índios, notável sertanista e desbravador de nossas fronteiras setentrionais ou boreais (ao norte; ao sul, seriam austrais ou meridionais). Em sua homenagem foi criado, durante a ditadura militar (1967), o Projeto Rondon, sob a coordenação dos ministérios da Defesa e da Educação. Surgiu como política de extensão universitária, de caráter assistencial. Funcionou daquele ano até 1989, sendo relançado em 2005, a pedido da União Nacional dos Estudantes. Para seus críticos, seria uma maneira de excluir, isolar jovens líderes universitários contrários àquele regime de exceção, para tanto atraindo-os, cooptando-os.
O programa de extensão é uma das atividades primordiais das universidades públicas, ao lado da graduação (ensino), da pesquisa, e da pós-graduação. Para alguns analistas do Projeto Rondon, como exercício extensionista, os alunos ensinam os moradores de zonas carentes a evitar e tratar doenças. Assim, integram-se, em práticas sociais, à realidade nacional. Seu trabalho representaria outrossim uma contraprestação pelo ensino superior gratuito recebido. Em comunidades menos favorecidas dos sertões, estariam ressarcindo (indenizando, compensando) à Universidade que lhes formou. Sem dispêndios pessoais.
Aliás, esta feliz ideia da interiorização compulsória do médico recém-formado (“rondonização”) fora propalada pelo professor Waldemar Alcântara, um dos fundadores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, senador e governador do Ceará. Em verdade, se o funcionamento da atual Fundação Projeto Rondon foi (ou fosse) constante na área médica, seria possível minorar (ou eliminar) a apregoada escassez de médicos na hinterlândia cearense (do alemão, hinter = atrás; e land = terra). E até dispensaríamos os desinformados colegas cubanos que aqui estariam a aportar, como escreveram há pouco na imprensa local os médicos José Maria Pontes (presidente do sindicato local dos médicos) e o professor médico/escritor Marcelo Gurgel, “o problema de saúde pública brasileira não é pela falta de médicos, e sim, de políticas públicas”.
Esta rondonização vem sendo aqui há muito praticada pelo Grupo de Comunicação ao qual pertence este jornal. O programa Saúde do Povo foi ao ar em 1955, por iniciativa do dr. Lineu Jucá, então presidente do Centro Médico Cearense, com participação do dr. Alequy Vasconcelos. Sua radiofonização ficou garantida pelos drs. Demócrito Dummar e Mairton Lucena, este à frente da Unimed Fortaleza. Apresentado pelo comunicador radialista Evaristo Nogueira, é de reconhecida utilidade pública pelas orientações ali prestadas por ilustres entrevistados, sempre aos sábados, das 11h às 12 horas.
(*) Médico e secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo, Opinião, de 28/06/2013.

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