segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O governador decola, a popularidade desce



Por Ricardo Alcântara (*)
São Paulo é um país dentro de outro: um terço do PIB brasileiro está lá. Seu perfil econômico faria dele um país mais rico do que algumas nações da Europa. Há apenas um ou outro país da América latina que ostente índices maiores.
O Ceará é um estado pobre. Nossa insignificante participação na produção da riqueza nacional é um problema menor: graves são os índices sociais, onde nosso desempenho nos assemelha a emblemas da degradação como Haiti e Somália.
Separados do Brasil, São Paulo seria integrado a um conjunto intermediário de nações do hemisfério Norte, enquanto seríamos alojados nas regiões centrais do continente africano. A renda per capita de um é oito vezes maior do que a do outro.
Pois o governo do Ceará conseguiu a proeza – e não me pergunte como – de gastar com contratações de aeronaves somente nos últimos vinte meses 22,3 milhões de reais, quase o dobro do que São Paulo pagou pelos mesmos serviços no período.
Quem se deu às contas viu ali recursos suficientes para fazer duas mil e oitocentas viagens de ia e volta ao Japão em aviões de carreira, o que, divididas no período, dariam 140 ponto-a-ponto por mês para o outro lado do planeta, cinco ao dia.
Assaltado pela intemperança, no Ceará o poder de Estado se encontra adoecido de uma perdulária megalomania. Pior: apoiada pelo silêncio nada inocente de partidos que já representaram as melhores esperanças do povo brasileiro.
Como não enfrenta quase oposição alguma, nem há no campo interno quem ouse iluminar o ambiente autocrático com nenhum esforço crítico, os donatários da capitania alencarina tecem seu discurso à margem da realidade por completo.
Em entrevista recente, o homem bomba Ciro Gomes qualificou como “uma putaria” a existência de 39 ministérios em Brasília sem, contudo, esclarecer que adjetivo reservaria para as 21 secretarias estaduais em atividade no governo de seu irmão.
Ora, entre as pastas federais, cujo número ele considera excessivo, há uma, dedicada exclusivamente à gestão dos portos navais, cujo titular é o ex-prefeito de Sobral Leônidas Cristino, indicado, por sinal, pelo grupo do qual Ciro é o mentor.
Logo, se ali há um prostíbulo, funciona com a adesão societária do moralista de ocasião. Se “putaria” é o que de melhor Ciro Gomes tem a dizer sobre um governo que de fato apoia, o que honestamente diria da obra administrativa de sua família?
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre é cão sem dono. Se gostou, passe adiante.

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