quinta-feira, 27 de março de 2014

ABERDEEN E DRAGÃO DO MAR AOS MÉDICOS CUBANOS



Longa e penosa foi a marcha da abolição dos escravos no Brasil, uma verdadeira nódoa que maculou a nossa História.
Em 1845, a Bill Aberdeen, aprovada pelo parlamento britânico, autorizava a Armada Real a apreender quaisquer embarcações envolvidas com o tráfico negreiro, independente da bandeira ostentada em seu mastro.
Os cativos eram devolvidos ao continente africano enquanto os comandantes e membros da tripulação do navio negreiro eram transportados para a Inglaterra, e julgados, por crime de pirataria, pelas severas leis inglesas, sendo condenados à forca ou a duríssimas penas de prisão, naquele país.
Essa lei britânica não se restringia ao apresamento em alto-mar, pois muitas dessas ações aconteceram em águas territoriais brasileiras, ensejando conflitos diplomáticos do Brasil Imperial e a Inglaterra.
Quando uma nau brasileira era avistada por uma frota inglesa, os traficantes de escravos, para escaparem do flagrante, tratavam de se livrar de sua “carga”, pondo os negros a ferros, jogando-os ao mar, com pesos atados aos pés, para que perecessem afogados no fundo do mar.
Para evitar tais práticas nefastas, ou qualquer forma de camuflagem ou dissimulação dos traficantes, os ingleses dispensaram a formalidade das provas cabais, passando a deter os barcos, a partir dos indícios do seu uso em tráfico humano, levando os supostos ou prováveis traficantes aos tribunais ingleses.
Uma consequência dessa pressão inglesa foi a aprovação, em 1850, da Lei Eusébio de Queiroz, que tornou ilícito o tráfico africano ao Brasil, porém a prática do escravagismo, entre nós, ainda perdurou até 1888.
Em 6/3/14, o Ceará celebrou, palidamente, o centenário de falecimento de Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, que, em 1881, liderou os jangadeiros platicéfalos, proclamando o porto de Fortaleza livre do tráfico interno de escravos, um gesto ousado e de rebeldia, diante das oligarquias escravocratas, servindo de facho para que o Ceará, por sua atitude redentora, se tornasse a Terra da Luz.
Hoje, em pleno século XXI, aparece um novo tráfico, que nos chega pela Cubana de Aviación transportando levas de médicos cubanos, para trabalho, nos moldes escravistas, sem quaisquer direitos trabalhistas e ao arrepio da lei, tutelados por autoridades de escusos interesses.
Falta a nós um novo Dragão do Mar, para bradar que, no Aeroporto Pinto Martins, não haverá mais tráfico médico cubano.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico e economista em Fortaleza
* Publicado In: O Povo. Fortaleza, 27 de março de 2014. Caderno A (Opinião). p.11.

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