segunda-feira, 31 de março de 2014

Causos Militares em Brasil Anedótico II



SENTENÇA MILITAR
Afrânio Peixoto - Conferência no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a 2 de julho de 1923.
Sitiado o general Madeira na Baía, começou, em 1823, o dissídio entre as tropas sitiantes, que deviam obedecer ao comando geral do general Labatut. Desobedecido esse general por Felisberto Gomes Caldeira, comandante de um dos batalhões patrióticos, é este preso. Dias depois a Junta da Cachoeira, ordena a prisão do próprio Labatut, e a libertação de Caldeira.
- Foi mal feito! - declarou o oficial brasileiro, depois de solto.
E emitindo a sua opinião:
- Um general que não convém às tropas não deve ser preso por estas: deve ser morto!
No ano seguinte, as suas tropas o matam!
A MÂE DOS REAVOS
Ernesto Sena - "Deodoro", pág. 170
Dona Rosa Paulina da Fonseca, mãe de Deodoro, ao saber do rompimento com o Paraguai, fez seguir para o campo de batalha seis dos seus filhos e, pouco depois, o sétimo, ainda de menor idade. Três deles tombam mortos, em Curupaiti e Itororó. Dois outros, entre os quais Deodoro, são gravemente feridos. Ao ter notícia, porém, de que se preparava a paz com o inimigo - paz sem vitória, - não se conteve.
- Prefiro não ver mais meus filhos! - declarou.
E com a sua alma varonil:
- Que fiquem antes todos sepultados no Paraguai, com a morte gloriosa no campo de batalha, do que enlameados por uma paz vergonhosa para a nossa Pátria!
NA HORA DO PERIGO
Ernesto Sena - "Deodoro"
Eram cinco e meia da manhã de 15 de novembro quando Benjamim Constant chegou ao quartel do 2° Regimento de Artilharia. Pulou do carro, em que o acompanhava o 2° tenente Lauro Müller, e, recebido pela oficialidade, declarou, feliz:
- Estou entre os meus amigos! Chegou o momento de ver quem sabe morrer pela Pátria!
E momentos depois, com entusiasmo, enquanto vestia a sua farda de tenente-coronel:
- Ainda há dignidade na classe militar!...
A ESPINGARDA VELHA
Tobias Monteiro - "Pesquisas e Depoimentos", pág. 246.
Na manhã de 15 de novembro, Floriano foi à casa de Deodoro, a convite deste, para se entenderem definitivamente sobre o movimento preparado. Floriano admitia a hipótese de uma conciliação. Deodoro insistiu pela manifestação armada. Floriano cedeu.
- Enfim - declarou - se a coisa é contra os "casacas", lá tenho a minha espingarda velha!
PECADO OU VIRTUDE
Leôncio Correia - "Correio da Manhã", 17 de julho de 1927.
Era o general Osório ministro da Guerra, quando, tendo-se aberto uma vaga de brigadeiro, levou ao Imperador, em um dos despachos, o decreto promovendo um coronel de brilhantíssima fé de ofício. O soberano deixou ficar o decreto e, no despacho seguinte, recorreu a um subterfúgio qualquer, para evitar a promoção.
- Majestade - objetou o ministro, - o oficial cujo nome apresento como digno do novo posto, é, como homem e como soldado, absolutamente merecedor de respeito. Se, entretanto, Vossa Majestade tem conhecimento de algum fato em contrário, será serviço a mim e ao Exército revelá-lo.
- É muito moço... - declarou o Imperador, como desculpa.
- Pois, melhor, - tornou o ministro.
- Poderá, mais a miúdo, inspecionar as nossas fronteiras.
Pedro II olhou em torno, e, chegando a boca ao ouvido do ministro:
- E dizem que é muito mulherengo...
A essas palavras, Osório desatou a rir:
- Mas, isso é até uma virtude, Majestade! Se isso impedisse promoção...
E com os seus modos francos:
- Eu ainda hoje seria soldado raso!..
A CAUSA DAS REVOLUÇÕES
Anais da Câmara.
Dividida a Câmara em dois campos, a propósito da prorrogação do sítio com que se queria armar Floriano, César Zama, veneranda figura da casa, lançou-se à arena para condenar a possibilidade de novas violências.
- As portas da revolução, - bradou, não se fecharão jamais com a medida de rigor, com o extermínio dos revolucionários nos campos de combate; mas com a remoção das causas que a provocaram, e com um governo de liberdade, justiça e probidade.
E num surto:
- Os povos livres e felizes não se revoltam!
O BEIJO... INCONSTITUCIONAL
Ernesto Sena - "Deodoro", pág, 160.
Não obstante a sua fisionomia austera, Deodoro era um espírito alegre e gostava de pilheriar. Como não tivesse tido filhos nem filhas, costumava beijar na testa as sobrinhas, onde as encontrava.
Um dia, estando em despacho, entrou uma destas, e Deodoro beijou-a. Afonso de Carvalho, ministro da Justiça, e velho magistrado, ponderou, gracejando, que aquele ósculo não era constitucional.
- Por que? - perguntou o marechal, intrigado.
- Porque não foi na forma do art. 40 da Constituição da República.
- Errou, meu caro amigo, - retrucou o marechal; - isso pertence exclusivamente ao expediente do meu gabinete particular.
E retomando o trabalho:
- Referendará você os que eu der na coroa de monsenhor Brito...
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)

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