terça-feira, 11 de março de 2014

LEIAM OS CLÁSSICOS



Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Os traços das pessoas em nossa cultura são, em grande parte, desenvolvidos pelas leituras. Desconheço leitor (não importa a profissão que desempenhe) que não seja grato aos livros, pelo que eles lhe tenham ensinado: de bom e de ruim. Não existe livro que não ensine algo ao leitor. Na mocidade, lê-se muita coisa ou não se lê nada. Não poucas vezes, lê-se de afogadilho.
Lembro-me de certas leituras de minha adolescência que me influenciaram perenemente. Como os livros de aventura do holandês Hendrick Van Loon —  [nasceu em Roterdan, na Holanda, em 1882. Emigrou, em 1903, para os Estados Unidos e trabalhou como jornalista e professor de História. Em 1922, o seu livro mais importante foi lançado; A História da Humanidade (Story of Mankind). Faleceu em 1944], quando afirma:
Longe do norte, numa terra chamada Svithjod, existe uma rocha. Possui 100 milhas de altura e 100 milhas de largura. Uma vez em cada milênio, um passarinho vem à rocha para afiar seu bico. Quando a rocha tiver sido totalmente desgastada, então, um único dia da eternidade terá se escoado.
Certos livros conservam seu frescor como se nunca tivessem envelhecidos. Quando os releio, dão-me a sensação de melhor compreendê-los, seja valorizando-os ainda mais, ou colocando-os no seu devido lugar na importância da minha subjetividade que, na eternidade do tempo.
Lembro-me de Os Lusíadas.
Pareciam-me os seus cânticos um inferno didático para os exercícios da análise gramatical. A procura do sujeito da oração e os predicadores daquela história de aventura em versos e, quando pensava que o sujeito estava no fim da frase, estava ele escondido no meio ou no princípio, nunca no lugar em que eu pensava que estivesse.  Hoje, sinto parte da grandeza daquela obra de uma maneira bastante diferente dos meus tempos de ginásio.
Às vezes, ao ler um livro, um artigo, uma crônica, uma poesia, minha memória desperta. Adquire aquela leitura uma significação sui generis, incorporada à minha natureza. Outros, tão decantados na adolescência e juventude, não mais me tocam como dantes.
Desconheço algo que seja capaz de substituir o sabor de uma leitura, apesar da nova era da informática. O livro possui textura, beleza gráfica. Sensualidade. Cheiro. As palavras impressas são uma forma de escultura — de letras — de palavras — de frases — dos parágrafos... São, como estátuas impressas, expressões da Arte Gráfica.
Há um prazer sensual em folhear as páginas de um bom livro, as suas páginas e capas são como a pele da mulher amada, parecem vivas. Quando um jovem me pergunta quais são os melhores livros para um médico ler, respondo sem titubear:
- Leiam os clássicos. Neles encontrarão as novidades do Mundo!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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