segunda-feira, 10 de março de 2014

OH, QUARTA-FEIRA INGRATA!



Por Ricardo Alcântara (*)
Espero que o governador tenha se divertido ou mesmo descansado bastante durante todo o feriado porque a quarta-feira de cinzas foi, para ele, tão ingrata quanto a que inspirou o célebre refrão da marchinha carnavalesca. Foi de cinzas, a notícia em sua volta ao batente.
Saiu a primeira pesquisa de opinião do ano sobre a sua sucessão, meio esquisita, por sinal: bancada por uma entidade nacional, foi realizada apenas no Ceará e excluiu dos questionários diversos nomes já colocados para a disputa. Encomenda.
Mas, ainda que divulgada com o indisfarçável objetivo de bombar a candidatura do empresário do voto Eunício Oliveira, o fato é que o governo estadual não ficou mesmo nada bem na sondagem: dê-lhe dez por cento a mais e ainda fica devendo.
Talvez eu deva me prevenir, iniciando uma avaliação com dois chavões: ‘pesquisa eleitoral é retrato de um momento’ e ‘a sete meses da votação, ela reflete mais o recall de cada nome do que a sinalização de uma preferência’. Pronto, já disse.
Para quem não viu: nenhum nome apontado com frequência como preferencial do governador Cid Gomes alcança diferença menor do que 36% de votos, confrontado com Eunício Oliveira. Se a adversária fosse Luizianne Lins, um pouco melhor: 15%.
Cid Gomes chega ao quadro, preocupante para ele, por confiar demais no que governantes costumam confiar: máquinas e alianças. Prova disso, nenhum esforço maior fez para ‘trabalhar um nome’ junto aos eleitores. São todos coadjuvantes.
A pesquisa deixa Cid Gomes fisgado no anzol do PT: para alavancar um figurante à condição de protagonista, contar com o tempo de propaganda dos petistas na TV é oxigênio puro e, aí, uma vaga para candidato ao senado sai até muito barato.
E mais ainda. Com o processo de dissenção já iniciado pelo outro aliado de peso, o PMDB de Eunício Oliveira, a pesquisa dá fôlego aos petistas que pretendem candidatura própria: o nome de Luizianne Lins aparece com chances na disputa.
A ex-prefeita impõe seu nome, internamente? Voto a voto, não. Mas a expressão de sua liderança, explicitada na pesquisa, cacifa o PT do C (petistas, porém cidistas) a tirar do governador algo mais, além daquilo que já lhes fora prometido.
Em resumo, é tendência resultante do quadro uma maior pressão sobre quem se julgava condutor incontestável do processo: disse sempre, o governador, que ‘discussão eleitoral, só lá para maio’. Pois boa parte dessa vantagem já vazou.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre é cão sem dono. Se gostou, passe adiante.

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