sábado, 31 de maio de 2014

Causos Militares em Brasil Anedótico IV

A GENEROSIDADE DE CAXIAS
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. II, pág. 247.

Derrotado a 3 de abril de 1832, pelo major Luiz Alves de Lima, que saíra ao seu encontro com um corpo de polícia, o major Miguel de Frias pôs-se em fuga, procurando escapar. Lançando-se no seu encalço, estava Alves de Lima para alcançá-lo, quando um adversário lhe dispara um tiro de pistola, fazendo pranchear o cavalo e permitindo, com isso, que o fugitivo desaparecesse.
Avançando de novo, é Caxias informado de que o chefe revoltoso se havia asilado em uma casa da rua do Sabão da Cidade Nova. Apeia-se, o dono da casa franqueia-lhe a residência, que Caxias percorre. Ao fim de um corredor, havia uma porta fechada, com a chave na fechadura. O chefe legalista dá volta à chave, e abre. No centro do quarto, de pé, Miguel de Frias o esperava. Os dois heróis olham-se, mudos. Ao fim de um instante, Alves de Lima puxa a porta, e retira-se, dizendo ao dono da casa:
- Desculpe-me; não há ninguém...
No dia seguinte, Miguel de Frias fugia, asilando-se nos Estados Unidos.

O SEGREDO DA BRAVURA
Taunay - "Reminiscências", vol. I, pág. 25.
Osório era, por índole, gracejador e espirituoso. Em um piquenique que lhe foi oferecido no Corcovado, uma senhora, a quem havia dado o braço, perguntou-lhe em que consistia o segredo da sua bravura.
- Eu fui valente por medo... - informou o herói.
- Medo?
- Sim; tinha medo de que as minhas patrícias bonitas não me recebessem bem, se me portasse mal nas batalhas.

A ARGÚCIA DE FLORIANO
Serzedelo Correia - "Páginas do Passado", pág. 18.

Apresentado pelo tenente Jansen Tavares, foi ao Itamarati, para falar a Floriano, um oficial do Exército, que pretendia dois meses de soldo adiantado:
- Sente-se, - ordenou o presidente.
Recusando a gentileza, o militar, mesmo de pé, contou ao que ia. E puxando do bolso uma nota de 5$000 e outra de 1$000, completamente machucadas, abriu-as, e disse ao ditador:
- Eis o dinheiro que eu e a minha família temos para passar o mês.
Floriano voltou-se, dizendo:
- Vá embora; vou mandar que lhe dêem três meses.
E virando-se para o tenente Jansen:
- Este camarada joga!...
- Não sei, marechal.
- Sabe, sim. Ele é jogador.
- Joga um pouco, - articulou Jansen.
- Um pouco, não; joga muito.
- Como sabe V. Excia. disso?

- Pois você não vê como ele tira o dinheiro do bolso todo machucado?! Isto só faz o jogador. No pano verde apanha indistintamente as notas de 20$000, de 10$000 e de 5$000, machuca tudo, mete no bolso e depois, ao fazer a parada, puxa-as da calça e abre para as pôr na mesa.
O oficial era, de fato, grande jogador.

“TECUM DOMINUS”
Moreira de Azevedo – “Mosaico Brasileiro”, pág. 42.
José Inácio da Costa, apelidado o Capacho, era poeta, ator e major do regimento dos pardos, nos tempos coloniais. Havendo-se mudado as vozes das manobras militares, o major Capacho, ainda pouco prático, trovejou, em exercício:
- Armas ao ombro!
- Não é armas ao ombro, Sr. oficial, - retorquiu-lhe o ajudante, - é “ombro armas!”
Apresentando-se o major dois dias depois ao serviço, ao entrar no paço deu um espirro.
- “Dominus tecum - disse-lhe um soldado.
- Não diga “dominus tecum”, mas “tecum dominus”! - observou o major.
E solene:
- Não sabe que, agora, tudo está mudado?

Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)

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