terça-feira, 6 de maio de 2014

SABER DIZER NÃO


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta

Uma das coisas mais tolas que se pode dizer para outra pessoa é “você deve mudar”, deixar de ser otário ou aprender a dizer não. Considero uma das maiores bobagens o emprego de frases/conselhos que, de tão repetidos, viraram lugar comum de coisa nenhuma. Saber dizer não ou sim depende apenas da segurança que temos dentro de nós, da nossa autoestima.
O não é palavra das mais ouvidas quando criança. Não pode, não deve, não bula, não pode comer sobremesa antes do jantar, não pode ficar acordado, não coma doce, não faça barulho, não se meta em conversa de adulto, não fale antes de ser perguntado, por ai vai. De tanto ouvir não, ficamos com medo de pronunciá-lo.

Dizer sim é mais simples e menos perigoso.
Pronunciar ou dizer ‘não’ fica plantado no inconsciente como coisa ruim, proibido de falar. Essas lembranças e outras tantas, se não forem decodificadas, passam a ser um dos espectros existenciais. Aprender a se colocar em primeiro lugar não é egoísmo, nem orgulho. É ter “Amor Próprio”, afirmava Charles Chaplin. Ao que acrescento: “É egoísmo fazer os outros sofrerem, mas é melhor do que fazermos sofrer a nós mesmos”.

Embora sabendo que essa conduta não seja correta e que não leva a lugar nenhum, continuamos a persistir no mesmo engano de pronunciar SIM quando deveríamos dizer NÃO. Na maioria das vezes, quem nos solicita alguma coisa é um aproveitador.
Três fatores fazem a maioria das pessoas dizer SIM quando na verdade anseiam dizer NÃO. São eles:

Medo: de ofender, magoar, decepcionar, sofrer represálias ou reação agressiva, seja física ou moral, de quem nos demanda algo que, por formação, não estamos dispostos a ceder.
Culpa: receio de causar sofrimento ao outro, de magoar, provocar tristeza, frustrar alguém.  Ser causador de algum sofrimento.
Vaidade: ameaça ao seu nível social, por deixar de ser considerada uma pessoa boa e passar por egoísta.

Aqueles que não superaram o medo, a culpa ou a presunção e não dizem NÃO, quando têm certeza de que deveriam fazê-lo, devem procurar auxílio psicoterápico e esquecer os conselhos recebidos através de lugares comuns.
Quem não sabe dizer NÃO corre o risco de ficar enrubescido pelo resto da vida.

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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