quarta-feira, 11 de junho de 2014

CALMA, LULA... A BOLA AINDA VAI ROLAR


Por Ricardo Alcântara (*)
O projeto governamental liderado pelo PT vai para uma disputa eleitoral em condições bem menos favoráveis que nas três anteriores, quando venceu, senão com margens avassaladoras, mas pelo menos suficientes para confirmar sua pertinência.

Na economia, apesar do crescimento acumulado, a percepção do momento é de estagnação. E há incertezas, com reajustes de preços a uma velocidade fora dos padrões experimentados na última década e um quadro urbano violento e conturbado.
Dentro dessa fotografia um tanto desfocada, existe uma Copa do Mundo e a constatação desconcertante de que a população não se envolveu com ela na intensidade prevista quando o país “conquistou a oportunidade” de realizar o evento.

Sabe aquela sensação de comprar um brinquedo caro para seu filho e, ao entregá-lo com grande expectativa de gratidão, perceber, desapontado, a indiferença do garoto com o novo engenho que você imaginara irresistível? Foi a impressão que o Lula me passou!
Pois uma comichão bateu na língua do ex-presidente e ele foi para a imprensa apontar “os verdadeiros culpados” pela frieza dos brasileiros com a prometida festa. E advinha o nome deles? Acertou: "a oposição" e sua "imprensa conservadora". Tudo muito previsível.

Lula não ponderou seus argumentos com constatações de mínima honestidade, admitindo que pelo menos uma parcela da decepção coletiva pudesse derivar de fatores mais tangíveis e menos subjetivos do que os alegados por ele em defesa de “sua” copa.
Não fez, por exemplo, qualquer referência ao fato de que os estádios foram, apesar de compromisso em contrário firmado por ele, construídos com dinheiro público (recursos estaduais) e que somente 12% das obras de mobilidade estão até agora concluídas.

Ao apontar “a oposição e sua imprensa” como tutores da nação, Lula nos nega um mérito possível, de que evoluímos em nossa cidadania – até mesmo por contribuição que também se deve muito a ele – ao exigirmos agora outro padrão de conduta do poder público.
Nervos trêmulos, Lula não foi sequer inteligente ao nos apontar, contrariado, como uma legião de idiotas, docilmente manipulada: com isso, ofereceu aos adversários um inesperado crédito de força, como se estivesse entregando os pontos antes da bola rolar.

Ao contrário, a reação moderada da nação com a “Copa das copas” demonstra que os atos públicos de Junho de 2013 demarcam uma nova, embora ainda difusa expectativa de mudanças, à qual a classe política respondeu com a nulidade de seu próprio valor.
Lula tem credibilidade popular, embora talvez já não tenha independência política, para optar em ser o futuro ou o passado deste novo tempo. Já foi dito que há um momento na História em que obras e ruínas se assemelham. Só alguns são capazes de distingui-las.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

Pauta Livre é cão sem dono. Se gostou, passe adiante.

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