quinta-feira, 7 de agosto de 2014

QUEM SOU EU? QUE FIZ EU?

Antero Coelho Neto (*)
Parte da população brasileira não lembra de acontecimentos e coisas que realizaram durante a vida. As dimensões da vida são quantidade, qualidade, consciência, valores, crenças, liberdade e ética. Mas é o amor que a engrandece e a memória que permite que seja lembrada. Esta, nas interpretações essenciais: capacidade anatomo-fisiológica de reter impressões e como lembrança, recordação. Não temos o hábito do cultivo da memória na possibilidade de ser usada para não repetir erros e melhorar decisões. Em muitos países as pessoas a desenvolvem como fundamental numa demonstração de que não é suficiente viver, é necessário que tenha valor para ficar na lembrança.

Sempre digo que aquilo que não pintamos, escrevemos, filmamos, poetizamos etc., não existiu. Existe no momento e depois passa. Temos descaso pelo guardar e perpetuar o acontecido. Na velhice, temos a tristeza de não ter guardado quase nada. Como seria a nossa história sem os memorialistas? Agora, com o uso das tecnologias, o cenário está mudando. E aí a esperança de que os jovens aprendam a valorizar o passado. A informática nos possibilita guardar a memória, como muitos estão fazendo. O Google, Orkut, Facebook, Linkedin etc.. constituem os sistemas da internet que nos ajudarão nessa empreitada. E o melhor é o prazer que nos dá, ao rever no computador coisas de que não lembrava mais pela perda da memória cognitiva na velhice.
Tenho escrito neste jornal sobre a memória e sua importância, mas leitores e ouvintes do nosso Programa “Novas Idades” (agora denominado “Novas Dimensões”) perguntam: Que fazer? Como fazer para guardá-la? Desde 1994, ao regressar de 11 anos vivendo no exterior como membro da OMS, tenho arquivado tudo no que chamo “Banco da Vida”. Até agora (2014), são cerca de 346 gigabytes arquivados em HD e DVD’s, com fotos, documentos, vídeos, apresentações em PowerPoint (aulas, conferências, palestras, projetos de organizações, etc.), cartas e e-mails , diário de viagens e artigos e livros que escrevi.

O material antigo, que não estava computadorizado, foi escaneado e arquivado no computador. A ideia é atualizar este material na medida em que o progresso científico for se transformando. Se, por acaso, não esteja mais aqui, que me ajudem amigos e familiares. Conforta-me saber que, mesmo que muito disto não seja conhecido do público, as palavras e os momentos que valeram a pena, estarão arquivados no meu “Banco da Vida” e será parte do que estou enviando e que deixarei como “lembrança”. Se alguém, algum dia, quiser saber... Guimarães Rosa disse: “Se eu lembro, tenho”. Nada mais certo. Mas o lembrado, precisa também ser materialmente preservado. E eu pensei, vamos criar o Movimento Nacional do Banco da Vida?
(*) Médico, professor e ex-presidente da Academia Cearense de Medicina.
Fonte: O Povo, Opinião, de 30/7/2014. p.6.

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