sexta-feira, 26 de setembro de 2014

MÍDIA E MÉDICO


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Presidia uma mesa redonda na Sociedade Brasileira de Medicina Psicossomática, a respeito de SIDA e suas repercussões sociais. A mesa estava composta por três especialistas.
Foi uma bela reunião, auditório interessadíssimo, mas quando ia dar por encerrado o encontro, eis que um dos participantes fez uma pergunta dirigida a mim:
– O colega presidente da mesa, como pediatra, poderia nos esclarecer se o vírus da SIDA é capaz de ser transmitido através da amamentação?
Fez-se silêncio no auditório. Por sorte, ou por azar meu, respondi:
(Era no tempo do flagelo da síndrome da deficiência imunológica no homem. À época, poucos sabiam da sua epidemiologia. Era uma matéria importante, como, aliás, tudo que envolve os desvios da sexualidade humana. Naquele tempo, considerava-se que a patologia afetava o homossexualismo, fato que se mostrou não ser mais que preconceito).
– A Revista Time noticiou que na Suécia haviam sido constatados dois casos de AIDS por contaminação de leite materno.
E foi com muito cuidado que respondi existir esta dúvida: se outras secreções, que não a espermática, poderiam ser responsáveis pela transmissão. Esclareci que não havia tomado conhecimento por nenhuma publicação médica indexada sobre o assunto. Apesar de não descartar a hipótese de o leite humano poder veicular a SIDA, como qualquer outra secreção do contaminado.
No outro dia, li estupefato, a manchete em vários jornais nacionais.
PROFESSOR DE PEDIATRIA DECLARA QUE O LEITE MATERNO PRODUZ AIDS.
Para sair dessa fria não foi fácil!

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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