sexta-feira, 10 de outubro de 2014

A CRÔNICA DE UMA CRÍTICA ANUNCIADA


Por Ricardo Alcântara (*)
PSDB e PT são como aqueles irmãos que, mesmo criados na mesma família (a resistência democrática, no caso), não se bicam, mas se toleram porque dividem participação nos negócios da família (a hegemonia da disputa política).
Em quase nada se entendem, a não ser na defesa dos interesses comuns no lucrativo empreendimento familiar (o monopólio das oportunidades de governo mediante a polarização eleitoral). Sim, porque aí, não mexa: eles se unirão.
Quem, no Brasil, ouse fazer o que Marina Silva tentou já por duas vezes, receberá o que ela recebeu quando demonstrou condições de vitória: pancadaria sem fim dos irmãos, sócios e desafetos, ameaçados em seu status de partidos preferenciais.
Agora, a candidata se prepara para receber, sem que seu nome mais esteja em disputa, outra saraivada de críticas e cobranças, quando deverá anunciar sua posição e da sua frente partidária diante do quadro objetivo do segundo turno.
Qualquer posição que aquela tessitura partidária venha a adotar, ela será alvo de severas reprovações de alguma parte, e todas recairão com maior força sobre a pessoa que personificou o projeto da via alternativa: Marina Silva – ela, de novo!
Se Marina e sua aliança mais uma vez se abstiver – considerando que o desgaste ético e doutrinário dos percursos de ambos gera uma impossibilidade de conciliação pragmática – será tingida pelo traço desonroso, e cômodo, da omissão.
Mas se a escolha recaísse em um apoio a Dilma, seria ignorar no limite do cinismo a rasteira e desonesta campanha de difamação movida contra ela. Aí, provavelmente, Marina se arriscaria a perder o maior dos apreços: o de seus mais fieis eleitores.
Pois faça ela o que já se aguarda (apoiar Aécio Neves) e a virulência vista até agora terá sido um breve ensaio: o que antes fora desconstrução, será então sucedida por uma demolição, pois de limites o petismo nada entende quando se desespera.
Não há nada definido, ainda. Percebe-se uma maior inclinação pelo apoio ao candidato tucano mediante compromissos programáticos bem definidos. Mas, seja lá qual for a decisão, Marina estará novamente na berlinda. Já está acostumada.
Enfim, o pau vai cantar. Afinal, como ousa ela se meter no meio de uma briga entre irmãos que não se entendem sobre quase nada, mas defendem com o mesmo ímpeto seus interesses como bloco acionista majoritário da democracia brasileira?
 (*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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