domingo, 9 de novembro de 2014

A CARGA HORÁRIA DA ANATOMIA


Por Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Em uma escola médica, pertencente a uma universidade nordestina, durante muito tempo, o ensino de Anatomia era ministrado em dois anos. Com a reforma do currículo, para inclusão do Internato, a sua carga horária foi diminuída e concentrada apenas no primeiro ano da faculdade.
Posteriormente, já no limiar dos anos setenta, essa universidade aderiu ao Acordo MEC/USAID, para implantação de uma drástica reforma universitária, que, entre outras medidas, abolia a cátedra, substituía as cadeiras por disciplinas, introduzia o sistema de créditos, com inclusão de matérias optativas e fim do regime seriado anualizado, passando a matrícula a ser semestral.
No caso da Anatomia, a Pró-Reitoria de Graduação traçou, como norte ou balizamento, o enxugamento da carga horária da Anatomia, de modo a ser lecionada em um único semestre letivo. Um coordenador acadêmico do curso, atento à vontade da Reitoria, era simpático à ideia, e, para pressionar os docentes a acatarem a mudança, ameaçou com uma retração ainda mais dramática da carga horária da disciplina, arguindo a perda da sua importância, com a modernização da Medicina e o avanço tecnológico.
A questão só não prosperou, com resultados nefastos, quando o antigo catedrático, em tom de recado, declarou:
– Se for para ensinar a Anatomia que o nosso coordenador acadêmico sabe, não precisaremos de dois meses, ou de duas semanas; bastam duas horas/aula.
Depois disso, a disciplina recuperou parte de suas perdas em carga horária.
* Publicado, originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Medicina, meu humor! Fortaleza: Edição do Autor, 2012; e republicado In: SOBRAMES-CEARÁ. Digno de nota. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2014. 304p. p.212.

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