quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

AS GRANDES EMPRESAS DE CIGARRO NÃO SE RENDEM

Por Alan Mattingly

Há tempos o cigarro está na berlinda. Até os franceses estão repensando seus hábitos, o que não significa que a nicotina tenha sido relegada, nem que as grandes empresas tenham se rendido.
Depois da entrada tardia no setor incipiente, mas promissor, da opção eletrônica, elas agora abrem caminho para se estabelecer no mercado de alternativos. Recentemente o Times mostrou um centro de pesquisas de última geração em Neuchatel, na Suíça, onde 300 cientistas da Philip Morris estão trabalhando para encontrar uma forma mais efetiva de oferecer nicotina ao consumidor que a versão eletrônica atual.
“Nossos esforços se baseiam em dois objetivos: desenvolver uma linha de produtos embasada em princípios científicos para reduzir os riscos e criar substitutos aceitáveis para os fumantes que não querem ou não podem parar”, explica o Dr. Patrick Picavet.
Os céticos, cientes do histórico enganoso do setor, duvidam das intenções das companhias – como os rótulos de alerta que algumas estão colocando, voluntariamente, nas embalagens da versão eletrônica, por exemplo, muito mais explícitos que os da opção tradicional. O Times registrou a seguinte explicação no cartucho da Altria: “A nicotina é uma substância viciante, muito tóxica quando inalada e/ou em contato com a pele”. E o texto contém mais cento e poucas palavras.
“Quase caí da cadeira quando vi. Será uma nobre iniciativa em nome do serviço público ou uma estratégia de negócios muito cínica? Desconfio que seja a segunda opção”, diz o Dr. Robert K. Jackler, da Escola de Medicina de Stanford na Califórnia.
Alguns observadores suspeitam que as empresas de cigarro queiram parecer mais responsáveis que os fabricantes menores da versão eletrônica e se proteger em termos jurídicos. Porém, William Phelps, porta-voz da Altria, disse que a medida reflete o objetivo de comunicar, aberta e honestamente, os efeitos do produto na saúde.
E Stephanie Cordisco, presidente da divisão eletrônica da RJ Reynolds, disse ao Times:
“Estamos aqui para garantir que o setor ficará do lado certo da história”.
Já a empresa europeia Swedish Match resolveu optar pela estratégia oposta, pedindo às agências reguladoras norte-americanas que amenizem os alertas em sua alternativa ao cigarro: o snus, muito semelhante ao fumo de mascar, mas sem as cusparadas.
Seu consumo é permitido apenas na Suécia, tendo sido proibido no resto da União Europeia e o fabricante não nega seus riscos – que são relativos, como alega, mas quer que o alerta reflita esse detalhe. O Times observou que o aviso atual nas embalagens de snus vendidas nos EUA diz que ele pode causar câncer de boca e não é uma alternativa segura ao cigarro. A versão desejada é: “Nenhum produto que contém fumo é seguro, mas este oferece riscos bem menores à saúde que o cigarro”.
Temendo a acusação de incentivo ao vício – e uma eventual volta aos cigarros normais – os defensores do setor da saúde pública não dizem que alguns produtos são menos perigosos que outros, mas os especialistas afirmam que essa é uma questão importante, principalmente pela tendência do ser humano a fazer coisas que lhe são prejudiciais.
“Fazemos coisas estranhas mesmo; casamos uns com os outros, temos religião, fazemos sexo sem fins reprodutivos, gostamos de teatro, cultura... damos uns goles de vez em quando e apreciamos nossa nicotina. É o que nos torna humanos”, constata Patrik Hildingsson, executivo da Swedish Match.

Fonte: The New York Times / O Povo, de 12/01/2015. p.1.

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