domingo, 25 de janeiro de 2015

Pérolas do Febeapá

... recolhidas por Valdir Sanches

Mexendo em meus livros, notei um volume de capa cor de abóbora, com letras pretas. Era o Febeapá, edição de 1966. Para os mais jovens, esclareço que o Festival de Besteira que Assola o País, o Febeapá, é uma gozação que o jornalista Sérgio Porto, na pele de Stanislaw Ponte Preta, fazia dos militares, políticos, delegados de polícia e assemelhados em plena ditadura. Sérgio não cobre a fase mais dura do regime, iniciada com o fechamento do Congresso Nacional, pelo AI-5, em dezembro de 1968. Nem teve tempo. Morreu três meses antes, em setembro, aos 45 anos.
Separei alguns trechos.
“Correu o mês de março tranquilo, embora o Coronel Costa Cavalcanti, deputado pernambucano e líder da tal linha dura, afirmasse que a candidatura Costa e Silva ‘cheirava a povo’, demonstrando um defeito olfativo impressionante."
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“O General Olímpio Mourão Filho doava ao Museu Mariano Procópio, de Juiz de Fora, a espada e a farda de campanha que usava como comandante das forças que fizeram a ‘redentora’ de 1º de abril. Isso é que foi revolução; com pouco mais de dois anos já estava dando peças para museu.”
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“Foi então que estreou no Teatro Municipal de São Paulo a peça clássica Electra, tendo comparecido ao local alguns agentes do DOPS para prender Sófocles, autor da peça e acusado de subversão, mas já falecido em 406 a.C..”
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“E quando a gente pensava que tinha diminuído o número de deputados cocorocas, aparecia o parlamentar Tufic Nassif com um projeto instituindo a escritura pública para venda de automóveis. Na ocasião, enviamos os nossos sinceros parabéns ao esclarecido deputado, com a sugestão de que aproveitasse o embalo e instituísse também um projeto sugerindo a lei do inquilinato para aluguel de táxis.”
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“Repetia-se em Porto Alegre episódio semelhante ao ocorrido com Sófocles, em São Paulo. O Coronel Bermudes, secretário da insegurança pública, acusava todo o elenco do Teatro Leopoldina de debochado e exigia a presença dos atores e do autor da peça em seu gabinete. Depois ficou muito decepcionado, porque Georgers Feydeau – o autor – desobedeceu sua ordem por motivo de força maior, isto é, faleceu em Paris, em 1921.”
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“A minissaia era lançada no Rio e execrada em Belo Horizonte, onde o Delegado de Costumes (inclusive costumes femininos), declarava aos jornais que prenderia o costureiro francês Pierre Cardin (bicharoca parisiense responsável pelo referido lançamento), caso aparecesse na capital mineira ‘para dar espetáculos obscenos, com seus vestidos decotados e saias curtas’. (…) Toda essa cocorocada iria influenciar um deputado estadual de lá, Lourival Pereira da Silva – que fez um discurso na Câmara sobre o tema ‘Ninguém Levantará a Saia da Mulher Mineira.’”
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“Em Belém do Pará um vereador era o precursor dessa bobagem de proibir mulher em anúncio publicitário. É verdade que o Prefeito Faria Lima, de São Paulo, foi mais bacaninha ainda, porque iria – mais tarde – proibir mulher e propor que ‘figuras da nossa História ilustrem os anúncios’, isto é Rui Barbosa vendendo sabão em pó, Tiradentes fazendo anúncio de lâmina de barbear, etc..”

(Um outro vereador de Belém protestou) “O mal não reside nas figuras femininas, mas no coração de quem vê nelas o lado imoral. Eu, por exemplo, seria capaz de olhar a foto de minha mãe nua e não sentir a menor reação”. O nome desse vereador que respeita o chamado amor filial: Álvaro de Freitas, ao qual aproveitamos o ensejo para enviar nossos parabéns.”)
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“E o Secretário de Turismo da Guanabara, Sr. Rio Branco, mudava a ornamentação para o Carnaval, na Avenida Rio Branco, por outra mais leve, e saía-se com esta: “Deus me livre acontecer um acidente na Avenida do Vovô.”
Fonte: Antonio Pastori, guardião da Domingueira Poética.

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