quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

LÍNGUA MATERNA



Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Uma das principais características da espécie humana, talvez a mais marcante, é o dom da linguagem; o comando de sons articulados que permite a transmissão de opiniões e anseios entre pessoas, chegando eventualmente ao diálogo.
As baleias, os golfinhos e os chimpanzés emitem certos sinais, códigos ou sons, em diferentes frequências, para se comunicarem entre si, mas isto ainda permanece no terreno das pesquisas.
O chimpanzé consegue reconhecer a própria imagem no espelho (capacidade que poucos animais apresentam); também são capazes de aprender certos tipos de linguagens, como a dos sinais. Apesar desses primatas, há milhões de anos, conseguirem retirar minhocas do húmus com um graveto e quebrar casca das nozes com pedaços de pedra, jamais aperfeiçoaram esses instrumentos.
O Homo sapiens (assim nos autointitulamos), originário do continente africano, ganhou mundo. Adaptamo-nos aos mais diversos climas da Terra. Inventamos “o aprendizado social” (capacidade de reproduzir comportamento, artes, engenhos observando informações do seu grupo), que passamos às gerações sucessivas.
Este conhecimento cumulativo, intergeracional, foi facilitado pela existência da linguagem e deve-se, sobretudo, à nossa capacidade de falar. A palavra foi inventada para contar.
A língua materna, ou língua nativa, a primeira língua que uma criança aprende, corresponde ao grupo étnico-linguístico onde foi gerado e nasceu. Excetuando-se o caso em que desde criança ouviram outro idioma, tornando-se bilíngues e "não podemos viver das exceções".
Basta atentarmos às dificuldades linguísticas por que passam os membros da União Europeia, cujos países falam mais 25 idiomas, afora os dialetos regionais. Não é de estranhar o número de tradutores contratados para tornar compreensíveis as determinações dessa União, apesar da Internet constituir-se num facilitador.
Cada idioma tem os seus idiotismos, frases especiais ou expressões idiomáticas.
A língua materna adentra-se ao aparelho mental da criança em curto espaço de tempo, dos seis aos oito meses de vida. Estudos atualizados mostram que nesse curto tempo da vida extrauterina está mais aberta a janela cerebral para a sonoridade da fala da mãe ou da mãe substituta. Mesmo naquelas crianças que foram ambientadas em duas línguas, pode-se perceber sotaque diverso. Tenho dúvida quanto a ser possível alguém falar um segundo idioma sem de quando em vez dizer uma palavra com entonação do idioma materno.
Concluo com algumas perguntas:
- Qual a causa de termos um único Prêmio Nobel de literatura lusófono?
- Não somos o quinto idioma mais falado no Mundo?
- Onde estão os nossos intelectuais, acadêmicos, universidades?
Deveriam estar engajados em busca de outra coisa que em reformas ortográficas que são achincalhadas, pois, os países lusófonos mudam a língua portuguesa de acordo com o ambiente onde ela é falada.
Esqueceram-se de que os computadores possuem sintaxe, mas não semântica?
 (*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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