domingo, 8 de fevereiro de 2015

UM DESAFIO SACRO PARA FORTITUDINE

No final dos anos cinquenta do século passado, residentes do Jacarecanga e seus bairros adjacentes, em Fortaleza, estavam fortemente motivados para erguer um templo católico que pudesse substituir a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, cujas pequenas dimensões impediam o acolhimento de tantos fiéis que a procuravam para o cumprimento de seus preceitos religiosos.

Sob o comando do então pároco, o Pe. Hélio Campos, com ampla arregimentação comunitária, em que se destacavam figuras de proa da sociedade local, como o empresário Francisco Filomeno Gomes e o político Gen. Cordeiro Neto, e de paroquianos engajados, a exemplo das catequistas da família Carlos da Silva (as irmãs Fransquinha, Eugênia, Maria e Rita), havia um esforço coletivo, mesclando campanhas para arrecadação de doações e outras promoções, do tipo quermesses, leilões e vendas de brindes variados, no afã de erigir essa nova igreja.
No limiar da década de 1960, como decorrência de uma combinação de razões, a obra, lamentavelmente, foi paralisada, frustrando o sonho de tantos devotos do “Poverello d’Assisi”, e dos muitos coestaduanos que portam o prenome Francisco.
Em novembro de 2005, e, portanto, passados quase dez anos, este articulista (M.G.C.S.) publicou um primeiro artigo tratando dessa questão, dando início a uma série de textos veiculados na mídia local e publicações pessoais, tendo por mote a imperativa determinação de se retomar a construção e levar a cabo a sua conclusão.
A chegada do jovem e entusiasta Pe. Francisco Bezerra do Carmo, em 2010, como administrador paroquial da Paróquia de São Francisco de Assis, trouxe um alento aos paroquianos, pois, por seu obstinado espírito empreendedor, assumiu o árduo e difícil encargo de concluir a sacrossanta edificação.
Para tanto, o Pe. Bezerra começou o seu trabalho com a desocupação do prédio, que abrigava moradores sem teto, conseguindo moradias decentes para as seis famílias que, indevidamente, nele se instalaram, dividindo a sacristia, uma área já coberta a longo tempo. Em seguida, tratou de resgatar as antigas plantas arquitetônicas, refazendo-as e incorporando os novos projetos, em consonância com a legislação municipal vigente.
Depois da fase de projetos, fez-se a avaliação da estrutura edificada, para identificar as partes comprometidas por ação das intempéries, ao largo de cinco décadas de franca exposição a agentes físicos e mecânicos, que mereceriam ser demolidas ou passíveis de recuperação. Finda essa avaliação, pôs-se, não apenas literalmente, a mão na massa que ora se encerra com a conclusão da estrutura, deixando-a pronta para receber a coberta da nave principal da igreja.
O material necessário para essa cobertura já foi adquirido, mas há uma premente carência de recursos financeiros para custear a mão de obra, cujos valores são particularmente altos em função dos crescentes custos da construção civil no Brasil.
Com o templo coberto, aumentam as possibilidades de realização dos ofícios litúrgicos, o que pode redundar em efeito-demonstração, fazendo com que mais fiéis acreditem na consecução dos trabalhos, e passem a contribuir de modo mais efetivo com numerários para cobrir as despesas da fase de acabamento.
Até então, expressiva parcela dos recursos aplicados foi fruto de doações particulares de pessoas amigas e de receita pública auferida da oferta de notas fiscais dos paroquianos e de devotos franciscanos de outras paróquias, cuja capilaridade bem reforça o compromisso social e religioso do povo fortalezense.
Esse gotejamento de recursos amealhados, ainda que continuado, arrastará a construção por demasiado tempo, o que não é nada interessante face à inflação dos custos da construção no Ceará, tal como sucede no restante do País, podendo redundar no encarecimento final da obra.
Para se contrapor a esses ditames de mercado, lança-se aqui o exequível desafio de buscar o apoio de entidades sediadas em nossa Fortitudine, que durante cerca de cinquenta anos conviveu com uma obra inacabada, espelhando a falsa sensação de descaso e lassidão da gente que habita a tão decantada loura desposada do Sol.
Entidades sociais, exemplificadas por associações empresariais ou de classes (Fecomércio, CIC, FIEC etc.), clubes de serviços (Lions, Rotary), fundações de direito privado (Fundação Beto Studart, Fundação Dias Macedo e outras) e agrupamentos religiosos (e.g. Sociedade Médica São Lucas e Encontro de Casais com Cristo) devem ser conclamadas a tomar parte nessa empreitada que poderá dotar a Fortaleza de um novo símbolo, representado pela pujante construção sacra, tendo a frente uma colossal estátua do santo protetor da Ecologia, com seus braços abertos a acolher os que transitam na avenida Leste-Oeste.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Membro da Sociedade Médica São Lucas

 * Publicado, sob o título “Um desafio Fortitudine”, In: O Povo. Fortaleza, 8 de fevereiro de 2015. Espiritualidade. p.16.

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