segunda-feira, 9 de março de 2015

Simpatia e Saúde Não São Cabos Eleitorais



Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Segundo o Dicionário Aurélio (ed. 2010 Brasil), 'simpatia' tem entre outros significados, o ritual quando posto em prática e um objeto supersticiosamente usado para curar enfermidade ou mal estar. É uma forma de magia ou feitiçaria básica, extremamente ligada ao povo, normalmente de origem campesina e geração empírica. As simpatias são formadas da mesma substância da superstição e estão a ela intimamente ligadas. É sinônimo de exorcismo, mandinga, crendice.
O uso de “alívios” extraídos das flores, dos frutos, das folhas, das raízes ou dos tubérculos de determinadas plantas data dos primórdios da história da humanidade.
As contribuições do pajé ameríndio, do feiticeiro negro e do bruxo europeu estão de tal maneira amalgamadas que seria difícil distinguir a qual cultura pertence a medicina popular das plantas, a medicina mágica, a medicina mística, religiosa, a medicina que leva a ingerir fezes ou urina.
A utilização das plantas medicinais, por meios de chás, lambedores, garrafadas, unguentos, purgantes ou emplastros é feita como curativo, como remédio popular – as mezinhas. São algumas dessas mezinhas: folha de pimenta em forma de emplastro para picada de marimbondo; chá da folha do abacateiro para pedras nos rins ou na bexiga; sumo de malva com mel para tosse seca; água adocicada de arroz ou chá da folha de pitomba para hemorragias; ou ainda sumo de arruda para convulsões.
Os africanos trouxeram ervas nativas que se mesclaram com especiarias do Oriente. Os portugueses disciplinaram os seus usos e investigaram com mais profundidade as propriedades terapêuticas de cada planta, anotando tudo, o que fez com que a fitoterapia fosse difundida através da Europa. E os índios transmitiram preceitos mágicos da cura pela defumação.
Dos escravos da Nação Malé, vindos da Nigéria, herdamos o conceito do mágico e dos demônios como causadores de doenças. As técnicas empregadas na medicina mágica são as benzeduras, conjunto de rezas, gestos ou palavras ditas por pessoas especializadas, como curadores, rezadores e benzedores.
As simpatias são também formadas da mesma substância da superstição e estão intimamente ligadas a formas de benzedura como os patuás, os amuletos, os santinhos, os talismãs, todos eles elementos materiais capazes de prevenir e evitar doenças.
O ex-voto (quadro, imagem, inscrição, ou órgão de cera, madeira, etc.) que se oferece em igreja ou capela, em comemoração à graça alcançada (milagre) é uma forma bastante difundida de agradecimento.
Na devoção popular, alguns santos da religião católica romana são invocados como especialistas em curar ou aliviar os padecimentos – ideia sincrética que provém das religiões africanas ou ameríndias.
Temos até santos especialistas:
- Santa Luzia cura doenças dos olhos.
- São Sebastião cura as feridas.
- São Roque evita as pestes.
- São Lourenço alivia as dores dos dentes.
- São Brás protege as enfermidades da garganta e salva as pessoas dos engasgos.
- São Bento protege contra mordidas de cobra, insetos venenosos e cães hidrófobos.
- Santa Ágata cura doenças dos pulmões e das vias respiratórias.
- São Lázaro cura a lepra e as feridas mais sérias.
- São Miguel cura os tumores malignos e benignos.
- Nossa Senhora do Bom Parto protege a gestação e o parto.
Eis algumas das mezinhas e medicamentos genéricos:
- Formiga saúva torrada com café - melhora as crises de asma.
- Chá de fezes de cachorro embranquecidas pelo sol - corta o sarampo.
- Estrume úmido friccionado na pele - cura frieira.
- Urina de vaca adicionada ao leite - trata a coqueluche
- Saliva de gente, logo ao se levantar, antes de falar qualquer palavra, passada na ferida - garante a rápida cicatrização.
Desculpem-me por acautelar a população, embora reconheça que não são poucas as contribuições das observações populares na cura dos males que assolam a Humanidade. De qualquer maneira advirto:
Medicina é coisa muito séria e Folclore de um povo, também.
Saúde não é brincadeira e simpatia não é cabo eleitoral.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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