quinta-feira, 2 de abril de 2015

PADRE POR MEDO DO INFERNO

Por Padre Geovane Saraiva *
O Santo Padre, o Papa Francisco, no Natal de 2013, diante do presépio na Basílica de São Pedro, assim se expressou: “Rezemos de modo especial por aqueles que sofrem perseguição por causa da Fé”. Em 19/10/2013 também disse que: “Seguir a Jesus quer dizer dar-Lhe o primeiro lugar, despojando-nos das muitas coisas que sufocam o nosso coração”. A incomensurável grandeza de alma do Papa Francisco faz-me lembrar do menino Léo Arlindo, o qual por medo do inferno, lugar pra onde, segundo sua convicção, não iriam as almas dos sacerdotes. Isso o levou a fortalecer a sua vocação religiosa e sacerdotal. Em 1942 entra no noviciado dos Franciscanos em Taquari, na Província do Rio Grande do Sul e lá iniciou o curso de Filosofia. Já em 1944 foi transferido para o convento Santo Antônio, em Divinópolis-MG, onde concluiu Filosofia e cursou Teologia.
O Senhor Deus colocou na mente e no coração do menino Léo Arlindo uma vida santa e divina e a fez de relevantes planos. Estamos falando de Dom Aloísio Cardeal Lorscheider. Doçura em pessoa, alegria constante. De posições corajosas e determinadas, ao mesmo tempo que pregava e anunciava o Evangelho com sabedoria. Carregou sempre no seu grande coração, as alegrias, as esperanças, as tristezas, as angústias e os sofrimentos de sua querida gente (cf. GS, 200). Além de travar, sem jamais se cansar, uma luta pela redemocratização, pela liberdade de expressão, pela dignidade da pessoa humana e pelo fim da tortura em nosso querido Brasil. Com o mesmo sentimento e a coerência do Cardeal Lorscheider, Francisco rezou assim: “Senhor, dai-nos a graça de chorarmos pela nossa indiferença, pela crueldade que existe no mundo e em nós”.
O Papa Francisco, embora jesuíta, profundamente marcado pelo espírito de Santo Inácio de Loyola, ao assumir o comando da Igreja Católica aos 13 de março de 2013, tornou-se por opção em um rigoroso projeto de vida, um filho de Francisco de Assis, a exemplo daquele que quase ficou papa, o Cardeal Lorscheider, que sobre o Pobrezinho de Assis assim se expressou: “Sempre fiquei muito impressionado e atraído pelo amor quente e apaixonado que São Francisco dedicava a Deus. Parece que no beijo do leproso ele entendeu, como Saulo no caminho de Damasco, a doação total de Deus a nós em seu Filho Jesus Cristo. Custou a Francisco não só descer do cavalo fogoso que no momento montava, mas muito mais descer do cavalo do orgulho e da vaidade com que ele queria conquistar o título de grande e nobre” (Grande Sinal, 1982).
Com enorme sensibilidade e ternura, mas sem esquecer a profecia, soube levantar sua voz em nome de Deus para denunciar as injustiças gritantes, presentes na vida dos brasileiros, frente a uma sociedade que, tendo se acostumado com a miséria como algo natural, se tornava insensível aos sofrimentos humanos (cf. Manfredo Oliveira). Foi o Cardeal que mais se destacou em todos os Conclaves e Sínodos, dos quais participou, gerando sempre para o mundo inteiro e, especialmente para a imprensa, uma grande expectativa, com sua palavra corajosa e profética, a qual era acolhida por todos como uma boa notícia, como uma dádiva que descia do céu!
As opções e raízes da espiritualidade franciscana, comuns entre o falecido Cardeal e nosso bom Papa Francisco são muito notáveis, como por exemplo nesta súplica do Papa Francisco por uma Igreja que cuida da Criação: “Nós somos guardiões da Criação, do projeto de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do meio ambiente. A pessoa humana está em perigo: eis aqui a urgência da ecologia humana!”.
Concluo com as próprias palavras do Cardeal Lorscheider e de Francisco: “São Francisco ajuda-nos a redescobrir a verdadeira imagem de Deus e a graça salvadora de Deus que se manifestou a todos os homens” (cf. Tt 2,11). É nesta imagem bíblica de Deus, assimilada por São Francisco, que se deve procurar a sua devoção à Encarnação do Verbo (presépio), ao Santíssimo Sacramento, à Palavra de Deus, aos Sacerdotes e à Cruz do Senhor”. Jamais podemos prescindir do milagre da fé e da esperança de um Deus que “sonha comigo, pensa em mim! Eu estou na mente e coração dele, que o Senhor é capaz de mudar a minha vida e comigo faz relevantes planos”. Amém!
* Geovani Saraiva é escritor, blogueiro, colunista, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia.
Fonte: O Povo, de 29/3/2015. Espiritualidade. p.9.

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