segunda-feira, 4 de maio de 2015

Tarefas importantes para o cristianismo hoje



Por Almir Magalhães (*)
Ao que tudo indica, desde os “mestres da suspeita” (Nietzsche, Marx, Freud), que criticaram o cristianismo através de um ateísmo sistematizado ou postulatório, em função da humanização da pessoa humana, da emancipação e autonomia humanas, já que consideravam o cristianismo como um entrave ao processo de humanização da pessoa humana, e, neste sentido, decretada a morte de Deus, passando pelo desafio do secularismo, da sociedade laica (mais precisamente do laicismo), do pluralismo que coloca o indivíduo diante de diversas concepções de mundo, modos de pensar divergentes que acabam gerando confusão, pelo desenvolvimento da tecnologia e da razão científica, e a respiração profunda da cristandade, ainda sobraria alguma tarefa para nós cristãos? Qual seria o papel do cristianismo numa sociedade com estas marcas? Como deveria ser nossa presença neste mundo?
O teólogo Mario de França Miranda, fazendo alusão à missão atual, afirma que o cristianismo deve recuperar “a novidade própria do evento Jesus Cristo. Pois o inaudito de sua proclamação e o inédito de suas ações acabaram, no curso dos séculos, soterradas por doutrinas, normas, instituições que, procurando estar a serviço deste evento primeiro, terminaram por ocultá-lo” (REB, Jul-Set 2014 - Evangelizar ou humanizar - p.540). Continua afirmando que a “atual sociedade abriga também em si muitas dúvidas, sofrimentos, desorientações, injustiças, realidades estas às quais o evangelho poderia aportar luz, sentido e consolo. Mas é importante, diante dela, ter primeiramente um olhar de compaixão e não de censura e julgamento” (idem, p. 541).
Daqui, devemos extrair duas posturas: uma delas o Papa Francisco tem feito não poucas vezes alusão a uma aproximação, ao cheiro de ovelha, a uma presença junto aos necessitados e a outra postura, uma atitude deixar de olhar para a sociedade como inimiga, como adversária que tem como seu fundamento, O demo e pensar em compromissos, a romper com a busca da felicidade individual sem pensar nos outros, a colocar no centro a misericórdia num mundo dilacerado, ferido.
Outra tarefa importante é encarar de fato o cristianismo como um “estilo de vida”, “um modo de existir” e abandonar o “verniz” do qual falara o Papa Paulo VI na Evangelii Nuntiandi (1975). Evidente que isto necessitará de uma formação cristã adulta pois a infantil já mostrou a que veio e se foi válida num passado longínquo, não o é mais hoje, Daí a insistência da CNBB hoje em motivar para a Iniciação à Vida Cristã, com inspiração catecumenal.
Retomo aqui os evidentes pensamentos de M. F. Miranda, quando reconhece que as religiões têm algo a oferecer à sociedade civil:
São elas que denunciam a marginalização a que são condenados os mais pobres, bem como as injustiças de políticas econômicas.
São elas que oferecem uma esperança que sustenta e mobiliza os mais fracos.
São elas que, livres de um dogmatismo doutrinário e impositivo, oferecem motivações e intuições substantivas (e não apenas funcionais) para as questões sujeitas a debate público.
São elas que, numa sociedade neoliberal e prisioneira de uma racionalidade funcional em busca de resultados, desmascaram a frieza burocrática e tecnocrática apontando os efeitos devastadores de certas decisões. (M.F.Miranda, Igreja e Sociedade, Paulinas, 2009, p. 139-140).
Fica evidente que aqui elas são colocadas como reflexões sobre o papel do cristianismo na sociedade moderna e pós-moderna; daí se deduz que elas devem se tornar em práticas na medida em que não percebemos isto de forma hegemônica em nossa ação pastoral e evangelizador.
(*) Almir Magalhães padre da Arquidiocese de Fortaleza, Diretor e Professor da Faculdade Católica de Fortaleza.
Fonte: O Povo, de 12/4/2015. Espiritualidade. p.13.

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