sexta-feira, 26 de junho de 2015

AIDS etc.


Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Registra-se em São Paulo epidemia de Dengue. Mais um surto, ou aumento repetitivo do número de casos em determinada região. Quando acomete todo um povo temos uma pandemia, como a corrupção no Brasil, oficializada e institucionalizada em 2003. Nossos ancestrais, os hominídeos, viviam em grupos de 50-100 indivíduos apenas. As congregações maiores ensejaram contaminações em massa e a difusão das zoonoses, notadamente a salmonelose, e dos agentes sifilíticos.
Tais pragas vitimaram a humanidade nos tempos mosaicos (bíblicos, relativos a Moisés), e foram descritas por Homero, na “Ilíada”, Publius Ovídius Naso, nas “Metamorfoses”, e Dionisio Halicarnasso, tendo este comentado a moléstia irrompida 461 anos a.C. Sobressaíram na Idade Antiga as epidemias de Atenas, a Antonína, e aquela do século III da era cristã. A primeira dessas, em 430 a.C. foi relatada por Tucídides, na sua “História da Guerra do Peloponeso”. As três teriam sido o mesmo morbo, sendo a terceira delas, a mais mortífera, autora de 5.000 mortes/dia. A peste bubônica, ou peste negra, instalou-se na Europa no século VI cristão. Em Florença, de 1346-1350 dizimou 600.000 pessoas e inspirou o escritor Giovanni Boccaccio (Paris, 1313 – Itália, 1375) para seu notável poema “Decameron”. Na Inglaterra de 1615 ceifou quase 70.000 vidas. Em Milão, no século XV foi o tópico do romance “I Promessi Sposi”, de Alessandro Manzoni (+1873).
Ratificava-se assim a antiga aliança entre medicina e literatura. Acreditam os historiadores que ditas apocalípticas hecatombes foram espraiadas pelos ratos das embarcações usadas pelos cruzados. Curiosamente, os pesquisadores não conseguem entender bem o vaivém das epidemias no tempo, e onde grassam. Ainda surpreendem-se com o desaparecimento da peste bubônica no Ocidente (séculos XVII e XVIII), e/ou a persistência da malária, findo o século XX na África, Ásia e América do Sul.
Quanto à Aids, o primeiro caso teria sido diagnosticado em dezembro de 1980, no New York Hospital, em paciente apresentando também pneumonia por Pneumocystis carinni. Casos outros havia subjacentes na África. O estranho padecimento traduz-se por um acrograma em inglês para síndrome de imunodeficiência adquirida, ou Sida, no Brasil.
Entre nossos irmãos portugueses, ingênuos mas exatos, seria Dias, Doença Imunológica Adquirida por Sacanagem. Em 1983 Luc Montagnier e Robert Gallo descobriram o vírus HIV como responsável. Aludido flagelo pandêmico reduz a imunidade, favorecendo tumores e infecções outras. Transmite-se pelo sexo desprotegido, por transfusões sanguíneas, e permeando a placenta. Acredita-se que igualmente pela saliva, pelo suor, e pelas lágrimas. No Ceará, entre 1983 e 2014 registraram-se 14.732 casos.
Mercê de mutações rápidas, ainda inexistem vacinas ou remédios específicos. Contudo, promissores são os atuais estudos genéticos americanos. Entre estes os brasileiros Michel Nussenzweig e Marina Caskey desenvolvem potente anti-corpo contra o HIV. Deus ilumine os cientistas, pois outras viroses mortais nos espreitam. “Fiat Lux”.
 (*) Médico. Professor Emérito da UFC. Ex-presidente e atual secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo, Opinião, de 27/5/2015. p.10.

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