terça-feira, 30 de junho de 2015

O BRASIL ANEDÓTICO LXX


A MELHOR CARTA DE EMPENHO
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 145.
Era o Dr. João Gomes de Campos juiz na Corte, quando se apresentou na sua casa uma titular de grande estalão com uma carta de empenho, para que lhe fosse favorável no julgamento de uma causa.
- Minha senhora, tenha a bondade de abrir essa gaveta, - pediu o magistrado.
A dama puxou a gaveta, que se achava repleta de cartas para abrir.
- Que viu aí, minha senhora?
- Cartas; muitas cartas, ainda fechadas, dirigidas a V. Excia.
- Pois, deite a sua aí, minha senhora.
- Mas, Sr. Desembargador...
- Perdoe-me, minha senhora; tenho feito isso aos pobres e não posso ser mais generoso com os ricos.
E de pé, para despedi-la:
- A lei, minha senhora, é a melhor carta de empenho que me podem apresentar.

BATUTA DE MARINHEIRO
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 151.
Era o capitão-tenente Bento José de Carvalho, irmão do Visconde de Inhaúma, comandante da corveta Isabel, quando esta naufragou, em 1859, nas costas de Marrocos.
O sinistro ocorreu durante uma tempestade. As ondas, enormes e furiosas, varriam o navio, quando este, rebentado o casco e partidos os mastros, começou a afundar-se.
- A vida de um comandante, depois do naufrágio, é fardo que não se deve disputar às ondas! - gritou, em desespero, o bravo marujo.
E atirou-se ao abismo.

COTEGIPE PROFETA
A. J. de Araújo Pinho - "O Barão de Cotegipe no Rio da Prata", pág. 8.
O Barão de Cotegipe, com a sua preciência política, foi, pode-se dizer, o piloto avisado da marcha da monarquia. Pelos acontecimentos de que era testemunha, previa aqueles que se avizinhavam. Pelo vôo das gaivotas conhecia a aproximação da tormenta.
Em maio de 1888, comentando a abolição, previu que, dentro de pouco tempo, se iniciaria para o país uma fase revolucionária, a qual traria a nação convulsionada por muito tempo. E como alguns colegas, sorrissem, voltou-se para eles, exclamando, em tom profético:
Se eu me engano, lavrem na minha sepultura este epitáfio: "O chamado no século Barão de Cotegipe, João Maurício Wanderley, era um visionário"!

O FIM DE UM GÊNIO
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 161.
Álvares de Azevedo foi, talvez, o talento mais precoce que o Brasil já produziu. Nascido a 12 de setembro de 1831, faleceu a 25 de abril de 1852, contando, portanto, pouco mais de 21 anos, - o que não obstou nos tivesse deixado uma obra poética imperecível.
Ao sentir a aproximação da morte, que lhe vinha prematura em conseqüência da vida boêmia em que consumia a mocidade, pediu Álvares de Azevedo à sua mãe que se retirasse, ergueu-se no leito, encostou a cabeça ao peito do irmão, e, tomando a mão do pai, beijou-a com ternura.
- Que fatalidade, meu pai! - murmurou.
E fechou os olhos, para sempre.
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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