quarta-feira, 3 de junho de 2015

UM SISTEMA DE SAÚDE PARA TODOS


Carlile Lavor (*)
“No Brasil, o "grande hospital" continua como o centro da atividade de saúde”
Na década de 1960, três evidências científicas mostraram a verdade do ensinamento de Hipócrates quanto à possibilidade de uma vida longa e mais saudável... se o indivíduo cuidar da sua saúde:
1- As pesquisas em Framingham, nos Estados Unidos, mostraram que alguns fatores do estilo de vida, como atividade física, alimentação e cuidados com a hipertensão são importantes para a conservação das coronárias;
2-A relação entre o tabagismo e o câncer de pulmão foi bem demonstrada no acompanhamento sistemático, por anos seguidos, da quantidade diária de cigarros fumados e o aparecimento da doença em médicos ingleses;
3-A Suécia, campeã na saúde das crianças, revelou como a ação conjunta do serviço de saúde e das famílias reduzia as doenças desse grupo de pessoas.
Novas evidências foram se somando para o controle do câncer do colo do útero, a redução das cáries dentais e a promoção da saúde mental.
Nas décadas anteriores, a ciência desvendara a forma de propagação das grandes epidemias e a sua prevenção: a vacina anti-variólica, o cuidado com a água e esgotos para se evitar o cólera; a relação dos ratos e do lixo com a transmissão da peste, e o papel do mosquito Aedes na febre amarela.
A acumulação destes conhecimentos serviu de base para o movimento internacional pela promoção da saúde: a pesquisa médica centralizada no hospital abriu-se para a família e a comunidade; a saúde passou a ser tratada por toda uma equipe de profissionais; e a aquisição daqueles novos conhecimentos permitiu que o indivíduo e a sociedade assumissem grande parte da responsabilidade pela sua saúde.
No Brasil, o “grande hospital” continua como o centro da atividade de saúde. É neste que se concentram os profissionais mais qualificados nas 60 especialidades médicas, bem como a tecnologia e os recursos financeiros. Para o atendimento nos pequenos e médios hospitais e nas unidades básicas de saúde espalhadas pelo país, se dirigem os médicos que não completaram a sua formação com a Residência. Faltam especialistas das áreas básicas (clínica médica, pediatria, toco-ginecologistas, cirurgiões gerais, anestesiologistas, traumatologistas, psiquiatras e médicos de família e comunidade).
Para completar a incapacidade das unidades básicas de atender aos doentes que lhe chegam, somam-se a deficiência de equipamentos, medicamentos e exames para apoio diagnóstico. E os doentes, naturalmente, tratam de superlotar o “grande hospital”.
Alguns municípios, como Tauá, rompem a situação dominante e desenvolvem um moderno sistema de saúde. O doutor João José, neurologista do HGF, nos mostra que é possível fazer um atendimento de boa qualidade à grande maioria dos pacientes com AVC, nas suas próprias regiões, aproveitando os hospitais e tomógrafos existentes.
(*) Médico e ex-secretário de saúde do Ceará. Membro da Academia Cearense de Medicina.

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