quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O BRASIL ANEDÓTICO LXXIII


A MORTE DE LAURINDO RABELO
Melo de Morais Filho - "Artistas do meu tempo", pág. 182.
De origem cigana, Laurindo Rabelo tinha de ser, e era, fatalista. Semanas antes da sua morte, era comum ouvi-lo dizer, com profunda convicção:
- Deixarei de existir no dia e mês em que morreu meu pai.
E assim sucedeu, efetivamente. No dia em que tinha de fechar os olhos, pediu que chamassem um padre, pois desejava receber a extrema unção. Este compareceu, e o poeta, sabendo-o no compartimento anexo, abraçou a esposa, pedindo-lhe:
- Lê para mim a oração dos agonizantes.
E após a leitura, afagando-a:
- É bom que eu morra primeiro, para te ensinar como se morre...

O CALO
Ernesto Sena - "Notas de um repórter", pág. 186.
Paula Ney, o maior desperdiçador de talento que o Brasil já possuiu, não perdoava os seus desafetos e, ainda menos, as nulidades pretensiosas que prosperavam no seu tempo. Conservava-se, uma tarde, em um grupo na rua do Ouvidor, sobre o prestígio da imprensa, quando um presentes, que se dizia jornalista, aventurou, acaciano:
- A imprensa é um grande corpo...
- É... é... - atalhou Paula Ney, piscando por trás do "pince-nez". - A imprensa é um grande corpo. Mas você, nesse corpo...
E sem temer a reação:
- É o calo do dedo mínimo do pé esquerdo!...

O COMBOIO
Contada ao colecionador.
Eleito o conselheiro Rodrigues Alves, em 1918, para a presidência da República, mandou chamar ao seu leito de enfermo o dr. Artur Neiva, então diretor da Higiene de S. Paulo, perguntando-lhe se aceitava, no seu governo, a direção da Saúde Pública.
- E eu tenho que deixar a Higiene aqui em S. Paulo? - indagou o convidado, que é fanático pelo Estado natal.
- Naturalmente.
- Então, V. Excia. me perdoe mas eu não aceito. O meu cargo, aqui, é mais honroso do que qualquer outro.
E numa definição do Brasil, que fez sorrir de vaidade o velho presidente paulista:
- S. Paulo, sr. conselheiro, é uma locomotiva poderosa, arrastando vinte vagões vazios!

O ORGULHO DE MORAIS E BARROS
Ernesto Sena - "Notas de um Repórter", pág. 229.
Era Prudente de Morais presidente da República, e Morais e Barros, seu irmão, senador por São Paulo, quando, uma tarde, se encontraram na rua do Ouvidor, a um mesmo tempo, este último e os deputados Augusto de Freitas, da Bahia, e Prisco Cavalcante, de Minas. Como o paulista e o mineiro não se conhecessem, Augusto de Freitas fez as apresentações:
- O deputado Prisco Cavalcante, de Minas... O senador Morais e Barros, irmão do sr. Prudente de Morais...
- Perdão! - protestou Morais e Barros, com gravidade. - Eu sou seu irmão mais velho.
E circunspecto:
- Prudente é que é meu irmão...
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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