sexta-feira, 15 de julho de 2016

RESISTÊNCIA, RESPONSABILIDADE E COMPROMISSO


Por José Jackson Coelho Sampaio (*)
Tenho 65 anos de vida e 23 anos de Uece, onde, também há 23 anos, exercito o equilíbrio de manter produção acadêmica, em graduação, pós-graduação, pesquisa e extensão, mesmo atuando na gestão: três anos coordenador do mestrado em Saúde Pública, cinco anos diretor do Centro de Ciências da Saúde, 11 anos pró-reitor de pós-graduação e pesquisa e quatro anos reitor. Eis a moldura pessoal das minhas afirmações e indagações.
Como resistir e iniciar um segundo mandato como reitor, sobretudo em tempos nos quais a legislação enlouquece o gestor honesto e não impede ou reduza a corrupção; nos quais a imagem detida pelas corporações é do gestor como aquele que exerce a crítica e tensiona a própria corporação; e nos quais a imagem detida pelas populações é a do gestor como burocrata insensível ou concentrador de privilégios?
Como ser discreto, mediando decisões coletivas, em momento de radicalização passional de opiniões? Como ser justo, íntegro, honesto, republicano, democrático, se o teatro da política reverbera oportunismos, abuso de poder, sequestro dos interesses públicos pelos interesses privados? Como usar os próprios corpo e imagem, por não dispor de outros patrimônios, em garantia de integridade, responsabilidade e compromisso, no meio do denuncismo ilimitado e do gozo da vaidade individualista que escorre das mídias sociais e da mídia impressa clássica que se deixa pautar por elas?
Tenho percebido muita gente boa renunciando a cargo público, por cansaço, pudor ou temor. Dou-me conta de uma geração que se encolhe para a vida privada, deixando a lide pública para oportunistas, não por escolha, mas por falta dela, não por gosto, mas por desgosto. Como conservar os princípios de uma ética solidária, emancipadora, nestas condições objetivas? Mas qual olhar para o futuro pode-se ter e qual capacidade pode ser esta capaz de fortalecer a habilidade de construir um novo código de relações e de produzir luz para iluminar os porões?
O tempora, o mores. Faltam Cíceros, sobram Catilinas.
(*) Professor titular em saúde pública e reitor da Uece.
Publicado In: O Povo, Opinião, de 5/7/16. p.18.

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