quarta-feira, 21 de setembro de 2016

IRMÃ IMÊLDA


Hélio Leitão (*)

Religiosa. Educadora. Advogada criminal. Maria Imêlda Lima Pontes devotou sua existência ao serviço dos mais pobres dentre os pobres.

Nascida aos 29 de setembro de 1920, entrega-se à vida religiosa, nas fileiras da Congregação das Filhas do Sagrado Coração Imaculado de Maria. Exerceu intenso trabalho de assistência a mulheres privadas de liberdade no Instituto Penal Feminino, iniciando, a partir de então, seus vínculos com a causa penitenciária.

Madura, aos 41 anos de idade ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará. Torna-se advogada, voltando sua prática profissional à defesa criminal gratuita de pessoas carentes. Fundou o Departamento Direito e Paz, com a finalidade precípua de prover assistência social e jurídica à população de baixa renda.

Uma trajetória de vida de abnegação e renúncia a ser enaltecida, sobretudo nestes tempos de individualismo e de cultura hedonista, em que o consumismo se transformou na grande ideologia, como dizia o geógrafo Milton Campos.

Não é por acaso que ganha o nome “Irmã Imêlda” uma inovadora experiência prisional que acontece no estado do Ceará. Uma unidade prisional voltada essencialmente a receber presos vulneráveis, assim entendidas as pessoas com deficiência, cadeirantes, doentes crônicos, público LGBT (historicamente, aqui e alhures, alvo de violências na ambiência carcerária).

É mais um esforço que se faz na linha da humanização do sistema penitenciário cearense, o que temos feito sem medo de arrostar as incompreensões e explorações políticas que povoam, nem sempre em boa-fé, o debate público sobre as questões afetas à segurança pública. Afinal, não percamos de vista que, como bem disse Irmã Imêlda no título do livro em que narra suas experiências, “o marginalizado também é gente”. Em meio à avalanche conservadora que engolfa a vida nacional, não raro o óbvio precisa ser dito. Em alta voz.

Imêlda faleceu em 2013. Acho que está feliz pela homenagem.

(*) Secretário de Estado da Justiça e Cidadania do Ceará.

* Publicado In: O Povo, de 19/09/2016. Opinião, p.19.

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