sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Sucesso da Novela Velho Chico: (Oportuno Lembrar) Voto é secreto mesmo?


Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

De quando em vez surpreendo-me com coisas que já sei. Desta vez foi com a pesquisa de julho de 2010 do Tribunal Eleitoral sobre o nível da escolaridade do eleitor brasileiro. Se não vejamos: de um total de 135,8 milhões de votantes, 5,9% são analfabetos, 35% informaram saber ler e escrever, mas a maioria não concluiu o primeiro grau escolar, o que significa que não frequentaram escola e provavelmente não sabem interpretar textos.

Apesar de concordar com a ideia de que o processo democrático é algo dinâmico e em constante aperfeiçoamento, enquanto os regimes ditatoriais são estáticos e donos de uma verdade que é a do ditador, acredito no que ensina o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920): "A Democracia é a melhor forma de governo, porém possui o seu calcanhar de Aquiles. É o seu colégio eleitoral". Continuo.

O voto de curral era a expressão empregada para designar o sistema eleitoral onde a eleição era manipulada pelos coronéis, figuras que detinham o poder social e político em diversas regiões do país. Não importando a forma de governo central, Brasil Colonial, Império ou República, quem mandava e desmandava eram esses pequenos caudilhos. O seu poder assemelhava-se ao feudo medieval, mas em lugar de fossos e muralhas havia cercas de arame farpado para guardar seus eleitores de cabresto...

Com o advento da TV e da eletrônica pensei que muita coisa iria mudar. Mudou sim, mais muito pouco. Nas grandes cidades - ou na maioria delas - quem manda são os donos da Mídia, principalmente os donos das cadeias de TV. De um povo cuja cultura vem das novelas, dos programas de baixo nível, desestruturado, analfabeto, o que se poderá esperar como resultado eleitoral?

Olhando de determinado ângulo este tal progresso tecnológico, tenho cá minhas dúvidas. Quem sabe com esses esclarecimentos, venhamos a fazer escolhas piores do que as que fazíamos antes. Não há mais barreira física contra a informação: onda de rádio, sinal de televisão ou onde despontam os sinais da Internet, aos quais, lamentavelmente, apenas uma pequena minoria tem acesso...

A informação penetra em todos os lugares e lares. Esboroaram-se os castelos dos nossos antigos coronéis. E tem mais, pelo andar da carruagem, a cerca do curral e os poderes dos coronéis estão ultrapassados, mas não deixam de existir - subliminarmente. Agora o céu é o limite. Ou dizendo de outra maneira: continuamos cercados pelos arames farpados do analfabetismo, agora intoxicados pelos marqueteiros eleitoreiros.

Sem Educação e Ensino não haverá tecnologia que seja capaz de fazer avançar a Democracia Brasileira. Ficamos no mesmo coronelismo, agora apenas camuflado. Que importa se a urna é eletrônica, quando a massa eleitoral não tem escola para aprender ou se esclarecer? Se a cabeça do votante continua desinformada e agora mais confusa?

Para concluir, vou confessar uma coisa (sem saudosismo piegas). No tempo dos coronéis era tudo mais simples e havia um folclore mais engraçado. Costumo dizer: sem humor, do que vale viver? Havia todo um folclore envolvido, cujo centro era, na maioria das vezes, o chefe político ou o dito coronel. O voto era passado das mãos do coronel para o eleitor em cédula dobrada e quando o pobre do eleitor queria ver o nome em que ia votar, o chefe, o capataz ou o cabo eleitoral ou qualquer coisa que o valha gritava: "Pra que olhar primeiro se você nem sabe ler e depois o voto é secreto. Você não sabe disso? Seu idiota! Quer ir pro xilindró? Olha o meganha aí para te prender...".

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

Nota do Editor do Blog: Esta postagem estava preparada para divulgação aqui nos próximos dias, ao término da novela “Velho Chico”, um grande sucesso de público veiculado pela Rede Globo nesse momento. Com ela, aproveita-se para lastimar a perda acidental do ator Montagner, colhido no auge de sua carreira artística, quando fazia um dos principais protagonistas do folhetim novelesco.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

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