sábado, 10 de setembro de 2016

Um estadista para o Brasil, depressa!



Por Paulo Elpídio de Menezes Neto (*)
Em que nos faz pensar a celebração deste dia? Recobramos, hoje, a ideia da fundação do Estado e da nação brasileiros, consolidados constitucionalmente - e a vemos, mais uma vez, confrontada com um passado dominado por hesitações e arranjos, falsas visões e perigosas perspectivas presumidas. Planos, tivemo-los e não foram poucos, burocráticos na forma e limitados em sua essência.
Faltou-nos um projeto político consistente: as boas intenções, raras e encabuladas, feneceram à sombra de partidos negligentes e ineptos, espécie de sindicatos de interesses fechados, “coronelismo” rural que se urbanizou e assumiu feição moderna, embora tenha conservado a velha receita, de lastro weberiano, de solidariedade e proteção, compromisso e lealdade. Tornamo-nos modernos, com a prudência de quem não arrisca passos audaciosos: criamos instituições que não respeitamos, forjamos complexo aparato constitucional que desdenhamos, na prática jurídica e legislativa.
Ocorreu-me, por tudo isso, exumar do esquecimento, neste 7 de setembro, a memória apagada de um personagem real, respeitável, de nossa História. José Bonifácio de Andrada e Silva foi o primeiro brasileiro ministro de Estado, na regência de Pedro, antes da Proclamação da República. Muitas de suas notas e reflexões, em escritos e correspondências, conferências e debates, antes e depois de seu ministério fugaz, revelam preocupação com os aspectos arcaicos da visão corrente sobre o Brasil. Nelas estão os traços mais significativos da personalidade de Bonifácio, artífice do Estado republicano brasileiro e não só o seu patriarca.
Neles, ao lado da publicação de textos oficiais de governo, descobrimos a visão de José Bonifácio sobre questões variadas, muitas das quais aguardam, ainda hoje, encaminhamento adequado. Enfatizou ele um conjunto de circunstâncias sociais, econômicas e políticas, que lhe pareciam frear o progresso do País, a exigir solução: a redução dos latifúndios, a distribuição das terras improdutivas e o incentivo à pequena propriedade; a promoção da miscigenação do povo brasileiro, de modo a integrar todas as raças e modelar uma “cultura” comum; a abolição da escravatura e a adoção da mão de obra remunerada, a instauração do ensino público… Imaginava algumas regras para que o Estado fosse preservado e florescesse: a observância das leis (diminuí-las em vez de as aumentar); igualdade de justiça; sistema justo de arrecadação e despesa (teria previsto as “pedaladas fiscais”, em seu zelo?); que à lei não escapasse o “que furta por comissão ou omissão”; que não se abstivesse o governo de “castigar o duque, o desembargador, o general e o sapateiro”. Que a liberdade de imprensa só se submetesse à lei, “ex post facto” e não “ante factum” (a identificação de responsabilidade faz-se por meios legais, “a posteriori”).
Transcorreram mais de 200 anos, aqui estamos nós a contornar, nestes derradeiros nove meses, as mesmas previsões e temores, a rejeitar as medidas necessárias para o desate do nó górdio político do País, no doce arrimo das combinações de governo e das ambições partidárias.
(*) Cientista político. Membro da Academia Brasileira de Educação e do Instituto do Ceará.
Fonte: O Povo, 7/09/16. Opinião, p.10.

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