quarta-feira, 9 de novembro de 2016

De "Fidípides" para os prefeituráveis


Márcia Alcântara Holanda (*)
Fidípides foi o apelido dado ao meu pé, numa alusão aos feitos maratônicos do soldado ateniense que tinha esse nome e que inaugurou a era das maratonas no mundo. Andarilho contumaz, carrega consigo um currículo de fazer inveja. Percorreu lugares que foram da Serra do Espinhaço (MG) ao Mirante da Pedra no Pacoti (CE), da Ibiapaba (CE) ao Parque Nacional do Caraça (MG), da Serra da Bocaina (RJ) à Chapada Diamantina (BA), do Castanhão no Alto Santo (CE) à Estrada Real (MG).
Em Toronto fez a travessia de todo o centro da cidade, repetindo o mesmo em Londres, Paris, Zurique, Amsterdã, Viena, Hamburgo, Munique, Berlim, Florença e Veneza e muito mais. Realizando trekkings, caminhando rápido ou lentamente, estava sempre atento para onde pisasse. Nunca caiu ou sofreu dificuldades que o tirasse do chão.
Sempre que retornava de suas andanças, passava a ter um sonho de consumo que ainda hoje vagueia em sua mente: “Como seria bom caminhar seguro e firme pelas ruas dessa querida Fortaleza!”. Tentou fazer isso muitas vezes, até que foi ao chão, estroncando-se da perna, o que o levou a imobilização em cadeira de rodas, voltando à liberdade do caminhar, seis meses depois.
Verificando os dados das campanhas levadas ao ar pelos  prefeituráveis, observou que Fortaleza está sob-roda: os carros têm avenidas enlarguecidas, possuem viadutos e túneis que desembocam nos shoppings, o asfalto contém desenhos de faixas para transitá-las de bicicletas e ônibus, mas rarissimamente se fez alguma pavimentação de calçadas padronizadas e seguras para os pedestres. A maioria delas oferece enormes riscos aos pés, pernas e cabeças dos transeuntes, por serem derrapantes, esburacadas, estreitas, inexistentes e ocupadas por carros.
Desolado, Fidípides, como os simples e mortais eleitores dessa Cidade, e que ora se encontram e se abraçam com os prefeituráveis, nos únicos momentos da vida desses em que pisam em calçadas e deambulam sobre elas, junto ao povo, a eles, apela: “Deem alguma chance para os pés dos que não possuem rodas para se locomoverem, ou mesmo, que preferem usá-los a fim de irem e virem de suas casas para a escola, trabalho e lazer”. “Se eleitos, compadeçam-se dos seres dessa Bela Fortaleza! Ofereçam-lhes calçada dignas: sigam a padronização urbana e será muito bom. Tirem do chão as infames pedras portuguesas, e, se não der, desenhem, pelo menos, uma faixazinha no asfalto que sirva aos Fidípides da vida”.
(*) Médica pneumologista; coordenadora do Pulmocenter; membro da Academia Cearense de Medicina.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 29/10/2016. Opinião. p.11.

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