quinta-feira, 24 de novembro de 2016

QUEM TEM MEDO DE CARANGUEJO?


Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
A palavra “câncer” foi consignada inicialmente por Hipócrates – pai da Medicina – pela semelhança com o caranguejo, a mover-se, lentamente, em todas as direções. Poucos termos têm tamanha carga semântica (interpretação linguística do sentido), e a professora de Teoria Literária Marisa Lajolo, afirmou ser “câncer” talvez o melhor exemplo do medo que certos vocábulos provocam (In “O que é Literatura”. Ed. Brasiliense, S.P., 1982). Acomete (ataca) igualmente peixes, aves, animais e até vegetais, como documentado pelo cearense Prof. José Júlio da Ponte (UFC) na chicória, hortaliça substituta da alface. É um exemplo de neoplasia, “nova formação de tecido, anormal, com crescimento excessivo e persistente”. Deve-se a alterações celulares por exposição a certas substâncias químicas, os radicais livres. Estes, naturais ao organismo, assim aumentam por fatores ambientais – responsáveis por 80% dos casos – entre eles a contaminação pelos raios X ou solares; poluição (fumaça de cigarro); frituras, estresse e dieta inadequada (máxime no câncer colo – retal). Segunda doença mortal nos EUA onde, por ano, em 2006 os números apontaram, em milhões: pulmões (1,2); mamas (1,05), e em milhares: cólons e reto (945); estômago (876); fígado (564); colo do útero (471). Estudos de oncologia (do gr. “ógkos” = tumor) preventiva constataram no câncer evolução anual lenta, em 4 fases: indução (15-30 anos), “in situ” (5-10); invasão (1-5), e disseminação (idem). O tumor “in situ” é também denominado pré-invasivo, ou pré-câncer (In PHSLeão: “Câncer nos Cólons e no Reto. Mesmos e outros aspectos”. Ed. UFC/CBC, Fortaleza, 1984). Poderíamos mesmo estar alojando agora um câncer naquelas duas fases iniciais acima, ainda sem sintomas ou sinais. “Vade retro”!
Como dicas para a sua prevenção, valham-nos fugir dos ditos radicais livres, e – entre os fatores ambientais – da poluição (fumaça de cigarro), e das dietas daninhas. O fumo causa não apenas câncer pulmonar, da boca, garganta, e laríngeo, mas inclusive quando nas vias de excreção da fumaça (rins, bexiga). Aliás, na gíria norte – americana, os cigarros chamam-se “coffin nails” (pregos de caixão). Quanto à sua detecção (descoberta) precoce por exames de sangue, o mais importante, atualmente, seria o marcador tumoral D-70. Dosagens outras identificam o risco genético para cânceres do pâncreas e colo-retais. São os testes genômicos, como GSTM1, BRCA1, e o TP53, contudo ainda inexequíveis nesta cidade. Técnicas radiológicas especiais, como a tomografia computadorizada, o “Pet Scan”, a colonoscopia virtual, podem robustecer seu diagnóstico tempestivo (oportuno) mesmo quando incipientes (iniciais). Na profilaxia é utilíssima a dieta isenta de açúcar refinado (preferir o mascavo, ou o demerara), e rica em peixes, frutas, verduras, grãos vegetais (dieta mediterrânea). Além desta providência, merecem especial atenção as promissoras vacinas (mais de 50 estão em análise), e a quimioprevenção com vitaminas, sais minerais, antioxidantes e hormônios. E para não dizerem que não falei de amor, recomendo ler aquele meu poema em cujo início confesso: “não tenho medo de câncer / temo que canses de mim” (no meu livro de texto mencionado à frente, ou em “Ilha de Canção”. Ed. UFC / Academia Cearense de Letras, Fortaleza, 1983).
(*) Professor Emérito da UFC. Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, Opinião, de 26/10/2016. p.10.

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