quinta-feira, 9 de março de 2017

LAVE-SE

João Brainer Clares de Andrade (*)
As novelas brasileiras ganham o mundo não apenas pelo efeito arrojado, mas sobretudo pela repercussão que têm dentro do País; o sucesso nacional motiva o estrangeiro a comprar nossas produções: fruto do hábito brasileiro de acompanhar e vibrar com novelas; a história envolve, cativa, muda hábitos até.

O momento de rediscussão de valores éticos, morais, políticos e econômicos no Brasil, infelizmente, não passa despercebido como novela. A mídia, que também não deixa de se inclinar, transmite os fatos; e o brasileiro, achando-se distante de tudo que ocorre nas terras longínquas de Brasília e Curitiba, transforma tudo em novela. Elege um mocinho, torce e briga por ele. Elege os vilões, odeia-os, comenta, tira conclusões em harmonia aos capítulos que se seguem. Assiste a tudo com a expectativa dos novos capítulos, mas com a falta de senso de discriminar de fato quem é vilão; ou para não se deixar levar que o principal vilão não é um “mocinho perseguido”.
O entrave, no entanto, é a euforia do fantástico: reconhecer e assumir tudo como novela distancia o brasileiro da realidade. Meio que nos tornamos alheios a tudo o que ocorre; deixamo-nos envolver pela cobertura entusiasmante da mídia; afinal, ser espectador não requer muito esforço. Pouco nos surge a ideia de que o que há em Brasília é o reflexo do que somos de fato. A corrupção dos poderosos é a mesma que cometemos todos os dias, em todos os níveis sociais: do mais pobre aos homens mais ricos do País. O “jeito” brasileiro é o enredo da novela à qual assistimos alheios, como se tudo fosse um folhetim com data para acabar.
Se a luta nas ruas agora ruma para “salvar” a Lava Jato, digo que mais importante é que nos coloquemos como parte da operação. Imagine se a sua vida pessoal e profissional se tornasse pública, com todos os detalhes, em todos os seus períodos, especialmente se você mantém relação com órgãos públicos. Simples; agora reflita se você seria mocinho ou vilão.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 25/02/2017. Opinião. p.10.
(*) Médico neurologista. Professor substituto da Uece.

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